“O caminho da vida pode ser o da liberdade e o da beleza, porém nos extraviamos.
A cobiça envenenou a alma dos homens, levantou inúmeras muralhas do ódio, e tem nos feito marchar a passos de ganso para a miséria e morticínios.
Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela.
A máquina, que produz abundância, tem nos deixado em penúria.
Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade.
Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura.
Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido”
Dicas práticas ajudam você a deixar o lar mais ecológico
- por Allan Lopes - Geobiologista*
Escutamos falar de
sustentabilidade o tempo todo e queremos fazer nossa parte para um mundo
melhor. Mas como? Neste artigo você vai encontrar dicas práticas para deixar
sua casa ou apartamento um pouco mais sustentável. Assim ajudamos o planeta,
nos sentimos melhor conosco e damos mais um passo em direção ao destino que
todos desejam: a felicidade.
Quando falamos em
sustentabilidade temos que levar em conta três fatores: o meio ambiente, as
pessoas e as finanças. O nosso querido planeta está sofrendo porque gastamos
água e energia em excesso, consumimos muito e produzimos grandes quantidades de
lixo. Levando isso em consideração, confira abaixo dicas ambientais que cabem
no bolso e deixam seu lar mais ecológico.
Lixo e Desperdício
A
primeira dica para quem quer desperdiçar menos é implantar no lar um
sistema de tratamento de lixo orgânico, conhecido como "Minhocasa".
A ideia é jogar todo o lixo em uma caixinha onde vivem minhocas. Os
animais - silenciosos e limpos - têm a função de deglutir todo o lixo. Eu
uso há mais de um ano, jogo papel, jornal, frutas, pão velho, bolo,
cascas, saquinho de chá e coador de papel com borra de café. Só não vale:
plásticos, carnes, cítricos, baterias e derivados do leite. As caixinhas
com as minhocas vêm pelo Correio (isso mesmo) e você ajuda a diminuir a
quantidade de lixo depositado no planeta.
E o
que fazer com computadores e objetos eletrônicos velhos? Entidades não
governamentais, como a CDI, promovem trabalhos sociais e aceitam doações
de aparelhos eletrônicos de pessoas e empresas. Para saber onde pode doar
os seus.
Água
é outra coisa que não podemos dar ao luxo de gastar ou estragar, certo?
Todo mundo já sabe que deveríamos tomar banhos mais curtos, mas ninguém
faz. Então está na hora de começar. Compromisso é sempre a chave da
mudança!
Além
disso, podemos fazer o seguinte: descarte o óleo de cozinha de forma
correta. Já vimos muitas campanhas sobre isso, mas as pessoas ainda não se
habituaram. Mas é simples. Basta esperar o óleo esfriar e em seguida
guardar em uma garrafa pet. A maioria dos restaurantes aceita que você
deixe de vez em quando um litro de óleo lá. Esses estabelecimentos não
reutilizarão o óleo, simplesmente darão a ele o destino correto, como são
obrigados por lei. Se morar na região de São Paulo e cidades vizinhas,
veja a lista de locais de coleta de óleo no Instituto Triângulo e na ONG
Trevo. No Rio de Janeiro você pode vender seu óleo usado. O Instituto
Akatu também dá alguns endereços de entrega nas cidades no Brasil. Quem
tem tiver terreno em casa também pode jogar um pouco de óleo na terra,
pois será absorvido e utilizado pelas plantas. Mas cuidado para não
exagerar na quantidade.
Poupe Energia
Este tema é de amplo
conhecimento, e muita gente já ouviu falar sobre o quanto é importante gastar
pouco e comprar equipamentos cada vez mais econômicos, tanto para o bolso
quanto para o planeta. Além disto, experimente adotar novos hábitos no
dia-a-dia, como:
Desligar
os equipamentos da tomada. Assim reduzimos de 5 a 15% o consumo de energia
e ainda nos livramos dos efeitos indesejáveis dos campos eletromagnéticos,
principalmente à noite. Isso inclui o carregador do celular.
Evite
utilizar o elevador e opte pelas escadas. Além de poupar mais energia você
ainda fica em forma. Se achar muito difícil subir as escadas, tente pelo
menos descer. Já é um começo de uma vida mais sustentável e ao mesmo tempo
mais saudável.
No dia do
curso será vendido o livro “Geobiologia – A Arte de Sentir-se Bem”, de Allan
Lopes.
Este é um
livro para ser saboreado com o corpo e com a alma. Trata de nossa interação com
os lugares que habitamos e nos dá técnicas e dicas de como utilizar essas
interações para incrementar nossa saúde e nosso desenvolvimento pessoal.
A vida
moderna coloca diversos desafios e perigos à nossa saúde, e com cada um deles
uma solução bela e criativa para que possamos nos sentir bem e experimentar a
vida em sua profundidade total.
Conhecimentos
milenares, juntamente com fatos científicos, dançam em conjunto nesta obra que
busca esclarecer a Geobiologia, ciência que trata da relação entre a saúde das
pessoas e o local onde habitam.
Referimo-nos anteriormente ao
fato de o ser humano, nos últimos tempos, ter inaugurado uma nova Era geológica
– o antropoceno, Era em que ele comparece como a grande ameaça à biosfera e o
eventual exterminador de sua própria civilização.
Há muito que biólogos e
cosmólogos estão advertindo a humanidade de que o nível de nossa agressiva
intervenção nos processos naturais está acelerando enormemente a sexta extinção
em massa de espécies de seres vivos. Ela já está em curso há alguns milhares de
anos. Estas extinções, misteriosamente, pertencem ao processo cosmogênico da
Terra. Nos últimos 540 milhões de anos ela conheceu cinco grandes extinções em
massa, praticamente uma em cada cem milhões de anos, exterminando grande parte
da vida no mar e na terra. A última ocorreu há 65 milhões de anos, quando foram
dizimados os dinossauros entre outras espécies.
Até agora todas as extinções eram
ocasionadas pelas forças do próprio universo e da Terra, a exemplo da queda de
meteoros rasantes ou de convulsões climáticas. A sexta está sendo acelerada
pelo próprio ser humano. Sem a presença dele, uma espécie desaparecia a cada
cinco anos. Agora, por causa de nossa agressividade industrialista e
consumista, multiplicamos a extinção em cem mil vezes, diz-nos o cosmólogo
Brian Swimme em entrevista recente no Enlighten Next Magazin, n.19. Os
dados são estarrecedores: Paul Ehrlich, professor de ecologia em Standford,
calcula em 250.000 espécies exterminadas por ano, enquanto Edward O. Wilson, de
Harvard, dá números mais baixos, entre 27.000 e 100.000 espécies por ano (R.
Barbault, Ecologia geral 2011, p.318).
O ecólogo E. Goldsmith, da
Universidade da Geórgia, afirma que a humanidade, ao tornar o mundo cada vez
mais empobrecido, degradado e menos capaz de sustentar a vida, tem revertido em
três milhões de anos o processo da evolução. O pior é que não nos damos conta
desta prática devastadora nem estamos preparados para avaliar o que significa
uma extinção em massa. Ela significa simplesmente a destruição das bases
ecológicas da vida na Terra e a eventual interrupção de nosso ensaio
civilizatório e quiçá até de nossa própria espécie. Thomas Berry, o pai da
ecologia americana, escreveu: “Nossas tradições éticas sabem lidar com o
suicídio, o homicídio e mesmo com o genocídio, mas não sabem lidar com o
biocídio e o geocídio” (Our Way into the Future, 1990 p.104).
Podemos desacelerar a sexta extinção
em massa, já que somos seus principais causadores? Podemos e devemos! Um bom
sinal é que estamos despertando a consciência de nossas origens há 13,7 bilhões
de anos e de nossa responsabilidade pelo futuro da vida. É o universo que
suscita tudo isso em nós porque está a nosso favor e não contra nós. Mas ele
pede a nossa cooperação já que somos os maiores causadores de tantos danos.
Agora é a hora de despertar enquanto há tempo.
O primeiro que importa fazer é
renovar o pacto natural entre Terra e Humanidade. A Terra nos dá tudo o que
precisamos. No pacto, a nossa retribuição deve ser o cuidado e o respeito pelos
limites da Terra. Mas, ingratos, lhe devolvemos com chutes, facadas, bombas e
práticas ecocidas e biocidas.
O segundo é reforçar a
reciprocidade ou a mutualidade: buscar aquela relação pela qual entramos em
sintonia com os dinamismos dos ecossistemas, usando-os racionalmente,
devolvendo-lhes a vitalidade e garantindo-lhes sustentabilidade. Para isso
necessitamos nos reinventar como espécie que se preocupa com as demais espécies
e aprende a conviver com toda a comunidade de vida. Devemos ser mais
cooperativos que competitivos, ter mais cuidado que vontade de submeter e
reconhecer e respeitar o valor intrínseco de cada ser.
O terceiro é viver a compaixão
não só entre os humanos, mas para com todos os seres: compaixão como forma de
amor e cuidado. A partir de agora eles dependem de nós se vão continuar a viver,
ou se serão condenados a desaparecer. Precisamos deixar para trás o paradigma
de dominação que reforça a extinção em massa e viver o paradigma do cuidado e
do respeito que preserva e prolonga a vida. No meio do antropoceno, urge
inaugurar a era ecozóica, que coloca o ecológico no centro. Só assim há
esperança de salvar nossa civilização e de permitir a continuidade de nosso
planeta vivo.
Leonardo Boff é autor com Mark
Hathaway de “O Tao da Libertação: explorando a ecologia da transformação”,
Vozes 2011.
Não é segredo que o planeta está à beira do colapso. Em séculos de
civilização, administramos os recursos naturais de forma insustentável -
ou suicida, como coloca o documentário 2012 - Tempo de Mudança (2012:
Time for Change, 2010). É partindo dessa premissa que o jornalista
Daniel Pinchbeck tenta compreender a suposta importância da data 2012 e
mostrar alternativas para amenizar o impacto de uma possível catástrofe.
Baseado
no livro 2012: The Return of Quetzalcoatl, escrito por Pinchbeck, o
filme fala do apocalipse profetizado pelos maias, mas sem cair no
pessimismo, na eco-chatice e sem tentivas de assustar à la Roland
Emmerich. Afinal, não é o medo do fim do mundo que vai gerar a mudança
pedida no título.
Aos poucos, o documentário vai diagnosticando
os problemas do planeta e chega a um dos principais impecilhos para a
mudança: consciência individual. A fim de evitar uma catástrofe mundial,
seria preciso que cada pessoa estivesse disposta a fazer grandes
mudanças em seus hábitos diários e abrir mão de certos confortos, em
nome de um bem maior. No entanto, não é (apenas) por meio de
panfletarismo que o filme passa sua mensagem, mas apresentando soluções.
Nas
conversas com cientistas e inventores, tomamos conhecimento de métodos
que nem sabíamos existir, como o fungo micélio, capaz de recuperar em
três meses um habitat contaminado por petróleo e substâncias químicas; a
"eco-máquina" do inventor e biólogo John Todd, que purifica esgoto sem
usar eletricidade ou qualquer produto industrializado, gerando água
própria para banho pela combinação de 17 espécies de plantas. Aprendemos
ainda que plantando hortas nos topos dos prédios, Nova York poderia
produzir de forma autônoma 80% dos vegetais que consome e, quando somos
apresentados ao sistema japonês de troca de serviços Fureai Kippu,
percebemos que o dinheiro não é a única ferramenta econômica possível.
Como
cinema, 2012 - Tempo de Mudança é fraco e o trabalho do brasileiro João
Amorim como diretor foi dedicado a organizar as 500 horas de material.
Misturando trechos de "filmagem de guerrilha", como as cenas no país
africano Gabão, e entrevistas com especialistas e ativistas famosos como
Sting, David Lynch, Ellen Page e Gilberto Gil, o filme serve mesmo para
remediar com aprendizado o sentimento de impotência perante a situação
mundial.
E, se mencanismos de poder e interesse fazem com que
métodos alternativos não sejam colocados em prática pelos governos,
inventores comprometidos com a mudança já burlam a etapa burocrática e
disponibilizam suas criações no YouTube, para serem copiadas e
implementadas. E viva la revolución da informação!
Com Sting, Gilberto Gil, David Lynch, Ellen Page, André Soares, Lucy Legan, Paul Stamets, Richard Register, Penny Livingston, Buckminster Fuller, Dennis Mckenna, Terence McKenna, Barbara Marx Hubbard, John Todd entre outros.
Quase ninguém mais consegue negar que o mundo vive hoje uma crise ambiental - poluição do ar, do solo, das águas, extinção de espécies, inundações, desabamentos, falta d'água - enfim, inúmeras evidências de que há um desequilíbrio no meio ambiente.
Mas o que pode ainda não estar tão claro é que, apesar de perversa para a maior parte das pessoas, a destruição dos bens naturais pode gerar lucros para uma minoria.
E como isso acontece?
Essa pergunta foi respondida na aula inaugural da EPSJV/Fiocruz com a conferência Rio+20: a quem serve a economia verde?, proferida por Camila Moreno, no último dia 22 de março.
"Se existisse floresta por todos os lados, alguém pagaria por um espaço para que as araras pudessem se reproduzir? Se tivesse água limpa por todos os cantos alguém pagaria por água?", diz a pesquisadora. Ela explica que a Economia Verde carrega uma grande contradição: ela só produz riqueza quando há escassez dos recursos naturais.
Camila Moreno, que é coordenadora de sustentabilidade da Fundação Heinrich Böll e acompanha há vários anos as convenções sobre clima e biodiversidade das Nações Unidas, definiu com riqueza de detalhes a história da ONU e da transformação da economia ao longo do tempo. "Para falar de Economia Verde e Rio+20, primeiro temos que falar sobre o que é uma Conferência das Nações Unidas. As Nações Unidas surgiram no mundo a partir de 1944, antes disso existia algo chamado a Liga das Nações", inicia a pesquisadora, que também é membro do GT de Ecologia Política do Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais (Clacso) e do Conselho Internacional da Red por uma America Latina Libre de Transgenicos (RALLT).
Com humor, Camila compara a Liga das Nações, que deu origem a ONU, com a reunião dos super-heróis dos desenhos animados "para salvar o mundo do mal". "Depois da 2ª Guerra Mundial é impossível pensar o mundo sem pensar o que é o multilateralismo, que é esse espaço construído pós 2ª Guerra Mundial - as Nações Unidas. E lá cada país tem direito a um voto. O voto de um país africano em tese vale o mesmo que o voto da Alemanha ou da França, mas o que acontece é que essa estrutura que se montou para justamente governar o mundo vem passando por profundas transformações e sendo profundamente questionada", diz.
Ela explica que a formação de grupos de países, como os G7 e G20, fez uma alteração na correlação de forças dentro das Nações Unidas, dando mais poder às grandes potências.
A pesquisadora detalha também as transformações no conceito de economia, o que, para ela, é outro conhecimento fundamental para quem quer compreender a proposta de Economia Verde. Camila observa que a palavra economia vem da palavra grega ‘oikos', que significa cuidar da casa, ou seja, fazer toda a gestão do abastecimento, garantir que haja animais para a alimentação, plantio, etc. O dinheiro, símbolo da economia atual, também não era em papel ou moedas como é hoje. "Já foram utilizadas conchas, sementes de cacau, pecinhas de cerâmica. Uma série de coisas foi usada ao longo da história para que as pessoas trocassem e esse valor nas trocas permanecesse estável", comenta. De acordo com a pesquisadora, as ideias de economia ligadas a crescimento fazem parte da história mais recente. "Essas são ideias recentesna história. Porque quando a gente pensa em oikos, esse cuidar da casa não significa derrubar a casa dos outros, ocupar e passar por cima e ir crescendo e acumulando. Porque eu não posso crescer a ponto de expulsar os outros para fora da Terra. Talvez em algum momento eu possa construir naves espaciais e mandar todos os que sobram para outro planeta", ironiza.
Linha do tempo
Camila destaca vários momentos importantes para compreender como o mundo chega hoje à Rio+20 com a proposta oficial da Economia Verde como solução para a crise mundial. Seguindo a linha do tempo, a pesquisadora ressalta a realização da Conferência de Bretton Woods - quando foram criados o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) - e a Guerra Fria, que dividiu o mundo no bloco socialista e o bloco capitalista. Da mesma forma, a própria criação da ONU e da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), presidida pelo brasileiro Josué de Castro, é considerada um marco nesse processo. "Josué de Castro coloca bem claro que a fome e a questão da alimentação do mundo são problemas essencialmente políticos. Não é a toa que ele fala isso. Naquele tempo a estratégia da Guerra Fria, de como vencer o bloco comunista, foi fazer uma Revolução Verde baseada na ideia de transformar massivamente os ecossistemas do mundo em grandes monoculturas dependentes de sementes híbridas. Pela primeira vez na história, os camponeses teriam que comprar as sementes a cada colheita e usar todos os químicos que sobraram da 2ª Guerra", critica.
Entretanto, segundo Camila, houve quem questionasse o discurso da Revolução Verde. Outro marco importante para a pesquisadora é a publicação do livro Primavera Silenciosa, da bióloga norte-americana Rachel Carsons, em 1962. "Estudando os botos na costa da Califórnia, ela descobriu que toda a vida marinha está profundamente contaminada pelo uso cumulativo dos agrotóxicos, que entram na terra, permeiam o ciclo das águas e não saem da natureza. Ela diagnosticou não apenas a extinção de várias espécies, mas também que esses químicos e esses venenos atingem a maioria da população", relata.
O livro, ressalta Camila, fez um grande sucesso e foi considerado a fundação do movimento ambientalista nos Estados Unidos, que depois se espalhou para outros países.
No início dos anos 70, outra publicação teve papel importante no processo que culminará com a Rio+20, mas dessa vez corroborando o pensamento de privatização da natureza. Trata-se do texto A tragédia dos Bens Comuns, de Garret Hardin, que defendia a ideia de que tudo que é público está fadado a desaparecer. É nesse contexto, segundo Camila, que é realizada a primeira conferência da ONU sobre Meio Ambiente, em 1972, na cidade de Estocolmo. "Pela primeira vez esses países, dentro da estrutura das Nações Unidas, se juntam para pensar o meio ambiente humano. Mas o que acontece é que um ano depois dessa Conferência de Estocolmo, quando deveria ser lançada uma agenda para pensar como proteger o meio ambiente como um bem comum, acontece um grande baque na história com a Crise do Petróleo", aponta.
A pesquisadora conta que nessa época é criada a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e a economia entra na época da financeirização, ou seja, acaba o lastro das moedas em ouro. "Hoje, como não tem mais o ouro, como o dinheiro é todo virtual, como a nossa economia internacional é toda entregue ao capital financeiro, das bolsas de valores, o sistema econômico precisa dar um salto, e é esse salto que vai se cristalizar na Rio+20, onde o esforço será o de convencer o mundo de que agora entramos na era do capital natural", fala.
Nos anos 80, continua Camila, dois personagens - o então presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan, e a primeira ministra britânica Margareth Thatcher - protagonizaram outro momento importante na história: eles são os grandes defensores, bem como colocam em prática, as políticas neoliberais. A pesquisadora explica que as reformas implementadas pelos dois governantes, chamadas de "ajustes estruturais", consistiram em privatização e precarização dos direitos dos trabalhadores. "Essas medidas que de maneira geral transformaram todas as economias do sul numa mesma época ficaram conhecidas como o Consenso de Washington", detalha. Além deste Consenso, de acordo com a pesquisadora, outro consenso também é forjado um ano antes - o relatório escrito pela primeira ministra noruguesa Gro Harlem Brundtland a pedido das Nações Unidas chamado Nosso futuro Comum, que traz pela primeira vez o termo desenvolvimento sustentável. Camila destaca a semelhança do nome desse relatório com o título do documento para a Rio+20: O futuro que queremos. "Mas a pergunta que não quer calar é: quem queremos? Essa é uma pergunta que devemos fazer sempre, quem fala em nome de nós? A quem interessa?", alerta.
Queda do muro de Berlim
Para Camila, o ano de 1989, quando houve a queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria, também é outro período fundamental para entender a conjuntura do mundo. Pouco depois, em 1992, é realizada no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - a ECO 92. "Para celebrar essa vitória de um sistema sobre o outro é que se realiza a Conferência do Rio, sob o governo do Collor, e que traz ao Rio 108 chefes de estado e de governo num momento histórico até hoje jamais repetido.
Em nenhuma outra ocasião tantas autoridades mundiais estiveram juntas em um mesmo lugar", diz. Camila detalha que nessa Conferência, para dar uma justificativa à sociedade civil, são assinadas três convenções - sobre clima, diversidade biológica e combate à desertificação - os mesmos temas que estão na pauta da Economia Verde. "Vinte anos depois, o que a Conferência Rio+20 oferece é: o mercado do clima, da biodiversidade e do solo", protesta.
Apesar disso, segundo Camila, a sociedade civil não ficou pacífica diante das propostas de mercantilização dos bens naturais. Ela destaca movimentos de contestação que surgiram na década de 90. Em 1993, há a criação da Via Campesina; pouco tempo depois, o levante Zapatista, questionando o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta). "Em 1999, quando a OMC se reúne na cidade de Seattle (EUA), as ruas são tomadas pelo movimento anti-globalização, que pela primeira vez aparece. A reunião é suspensa, há barricadas e fogo na cidade, e a sociedade civil diz: ‘a vida não se vende, o mundo não é uma mercadoria'. Essa campanha dá início ao processo do Fórum Social Mundial", exemplifica.
Dez anos da ECO 92
Seguindo a linha do tempo, a coordenadora de sustentabilidade da Fundação Heinrich Böll chega até o ano de 2002, quando foi realizada, em Joanesburgo, na África do Sul, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, também conhecida como Rio+10. Segundo a pesquisadora, a Conferência foi um fracasso porque os governos tiveram que reconhecer que muito pouco foi feito em 10 anos após a ECO 92. Nesse momento, a solução apresentada pelos países para os problemas ambientais, conforme relata Camila, são as parcerias público-privadas, e, assim, ganha força a ideia de que as empresas precisam ser sócias dos governos para a sustentabilidade acontecer. "Dez anos antes, na Rio 92, era impensável que uma empresa estivesse sentada dentro das Nações Unidas. Isso muda drasticamente em dez anos. O setor privado, as empresas e todas as instituições que visam o lucro começaram a se legitimar como parte de um processo de governar o mundo", reforça.
Em 2005, há uma vitória dos movimentos sociais com o plebiscito contra a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e também, de acordo com Camila, outro evento importante: o furacão Katrina nos EUA, que expõe a fragilidade do ambiente e das populações pobres frente as mudanças climáticas. "Quando há uma inundação é muito diferente o que acontece numa cobertura no Leblon e o que acontece nas periferias de São Paulo e do Rio, e essa fragilidade dos mais pobres ficou bastante evidente com o furacão Katrina", comenta.
Mais uma vez, um outro relatório é definitivo na história: o documento chamado A Economia das Mudanças Climáticas, conhecido também como Relatório Stern, escrito em 2006 por Nicholas Stern, ex-economista chefe do Banco Mundial, sob a encomenda do governo da Inglaterra. Camila destaca que o documento vê oportunidades de negócios com o aquecimento global, como a produção de agrocombustíveis.
Segundo a pesquisadora, a partir desse relatório, o termo economia de baixo carbono começa a ganhar peso nos discursos dos governantes. Já em 2008, seguindo a linha do tempo, explode a crise financeira. "Eu recomendo que vocês assistam ao filme Trabalho Interno - Inside Job um documentário brilhante sobre quem forma os economistas que conscientemente foram cúmplices da crise financeira, e sobre como o sistema se aproveita das crises para crescer. Ou seja, a crise ambiental não é um obstáculo ao capital, é uma oportunidade de negócios", diz.
Segundo Camila, é a partir daí que o discurso "verde" toma ainda mais forma. A pesquisadora destaca que governos do mundo inteiro já entraram em acordo sobre uma métrica para colocar preço nos serviços dos ecossistemas, como a polinização feita pelas abelhas, ou a renovação do ar. "O mercado de carbono é um mercado de compra e venda de direitos de poluir o ar. Hoje já existem dois projetos de lei que tratam sobre como será a legislação para determinar pagamento de serviços ambientais. Um dos principais serviços ambientais, que supostamente vale bilhões, é a polinização das abelhas. Mas a pergunta que não quer calar é: como eu pago as abelhas? Qual é o sindicato das abelhas? Quem vai receber em nome das abelhas?", brinca.
Hegemonia
A pesquisadora reforça o quanto o conceito de hegemonia é fundamental para compreender os consensos forjados ao longo da história, inclusive o que se aproxima, de defesa da Economia Verde, na Rio+20. "A Economia Verde diz, por exemplo, que as cidades são as mais eficientes e que é ineficiente viver no campo. Uma das tarefas da Economia Verde é esvaziar o campo porque é impossível vender pacotes tecnológicos de transmissão de energia eólica, energia solar e vender várias patentes para as pessoas que estão dispersas em assentamentos, para povos indígenas, quilombolas, que usam muito pouco dinheiro. O campo deve ser o local onde se vai produzir ecoturismo e vender pagamento por serviços ambientais. Mas é preciso pensar em uma pergunta bem básica: quem pode vender alguma coisa? Quem poderá vender serviços ambientais? Quem é proprietário de terra. E nós sabemos que o Brasil é o que tem a mais desigual concentração de terra do mundo. Então, quem irá vender e lucrar novamente será o agronegócio", conclui.
Camila encerrou sua apresentação falando sobre mais um dois instrumentos de implementação da Economia Verde em curso já no Brasil, a Bolsa Verde do Rio, e as recentes mudanças no Código Florestal brasileiro. "Durante a Rio+20 haverá um evento imperdível: o lançamento da Bolsa Verde do Rio. O que será vendido? Créditos de carbono, direitos de emissão de efluentes químicos na Baía de Guanabara, títulos das UPPs [Unidades de Polícia Pacificadora], porque para fazer bons negócios é preciso ter a pobreza pacificada e militarizada", afirma.
Sobre o Código Florestal, ela explica que o principal capítulo da nova legislação fala justamente sobre incentivos financeiros, o que, para Camila é emblemático da Economia Verde. "O capítulo dez diz que cada hectare de cobertura vegetal que os proprietários de terra tenham poderá ser inscrito no cadastro rural. Dessa forma, será emitida uma cédula de cobertura vegetal, e uma vez emitindo essa cédula, o proprietário terá 30 dias para registrá-la na bolsa de valores, porque isso poderá ser comprado e vendido. Ou seja, a partir da aprovação do Código Florestal, o fiscal do Ibama pode chegar em uma monocultura de cana de açúcar com 5 mil hectares, com trabalho escravo, e perguntar: ‘cadê a reserva legal?' Ele vai olhar em volta e não vai ter nenhuma árvore, mas o proprietário vai dizer assim: ‘tá aqui o papel, aqui está a minha reserva legal, eu tenho tantos hectares no Tocantins'", exemplifica.
Para a pesquisadora, esse é um prenúncio do que pode acontecer em escala mundial, embora ainda haja obstáculos a essa proposta que precisam ser potencializados. "Daqui a alguns anos pode existir um mercado do que ainda resta da natureza e quem ganhará com a Economia Verde serão os proprietários dos recursos naturais. E o grande obstáculo para isso é que ainda existam no mundo bens comuns, áreas de uso coletivo e povos e populações que ainda acreditam que não é privatizando, e nem através do comércio, que se vai construir outra sociedade e outra natureza", concluiu.
Sábado, dia 24 de Março, iniciamos a nova temporada dos cursos de Terapias Naturais Integrativas, no Grupo Entre Folhas, em Viçosa/MG. A aula de abertura deste ciclo em 2012, foi ministrada pelo Mestre de Yoga Pedro Santos Bastos.
Neste módulo tivemos como tema abordado "Cores e Sons Terapêuticos".
Abaixo segue a apresentação da aula e algumas fotos dos participantes durante a parte prática.