quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Veja as principais causas e impactos da mudança climática no planeta

O novo relatório mundial de síntese sobre as mudanças climáticas divulgado pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) alerta que os governos podem controlar as mudanças climáticas a custos viáveis, mas precisam reduzir a zero a emissão dos gases do efeito estufa até 2100 para limitar riscos crescentes.

Veja abaixo os principais pontos do relatório, que aponta causas, impactos atuais e futuros, assim como os cenários para limitar o aumento da temperatura abaixo dos 2ºC.

Quais são os sinais da mudança climática?

Temperaturas: a média global na superfície da Terra e dos oceanos subiu 0,85°C entre 1880 e 2012. As três últimas décadas foram sucessivamente as mais quentes desde 1850. A temperatura na superfície dos oceanos aumentou 0,11ºC por década entre 1971 e 2010.


Precipitações (chuva, neve, granizo): aumento desde 1901 nas latitudes médias do hemisfério norte.



Acidificação: os oceanos são cada vez mais ácidos. O pH médio na superfície caiu 0,1 ponto, o que representa um aumento da acidez de 26%.

Ártico: a superfície média na camada de gelo diminuiu de 3,5 a 4,1% por década entre 1979 e 2012.

Antártica: a superfície média na camada de gelo aumentou de 1,2 a 1,8% por década entre 1979 e 2012, mas em algumas regiões da Antártica registrou queda.

Nível do mar: entre 1901 e 2010, o nível médio dos oceanos aumentou 19 cm

Quais são as causas do aquecimento?

- As emissões anuais de gases que provocam o efeito estufa (GEI) são mais elevadas que nunca: em 2010, alcançaram 49 gigatoneladas de equivalente de CO2; as energias fósseis representaram 78% das emissões de GEI entre 1970 e 2010.

- As concentrações de GEI (CO2, metano e óxido nitroso) na atmosfera são as mais elevadas em 800.000 anos.

- Entre 1750 e 2011, as emissões acumuladas de CO2 alcançaram 2040 gigatoneladas; 40% (880 Gt) das emissões permaneceram na atmosfera, o restante fica armazenado na biomassa do oceano.

- Metade das emissões de CO2 entre 1750 e 2011 aconteceu nos últimos 40 anos.

- O oceano absorveu 30% das emissões de CO2, o que provocou a acidificação.

Qual impacto desta mudança no planeta?

- Os sistemas hidrológicos foram alterados pela modificação do regime de precipitações e o derretimento dos gelos, afetando a disponibilidade e a qualidade da água.

- As zonas de repartição, as migrações e a quantidade de indivíduos de numerosas espécies marinhas ou terrestres foram modificadas.

- A frequência das ondas de calor aumentou em partes da Europa, Ásia e Austrália.

- A probabilidade de ondas de calor dobrou em certas regiões.

- As regiões nas quais as precipitações aumentaram são mais numerosas que aquelas onde registraram queda.

Quais são as previsões do painel?

Sem novas medidas para reduzir as emissões de GEI, o planeta permanece no cenário mais elevado, com uma alta global das temperaturas no fim do século 21 de 3,7°C a 4,8°C na comparação com 1850-1900.

Apenas o cenário que implica a redução mais forte de GEI permitiria permanecer abaixo dos 2ºC em relação ao período pré-industrial (1861-1880)

Os 2°C implicam que as emissões acumuladas não superem 2.900 Gt de CO2 e que haja redução das emissões em 40% a 70% até 2050 (na comparação com 2010) e o fim das emissões até 2100.

E se nada mudar?

O ritmo anual das emissões de gases que provocam o efeito estufa terá impactos "graves, extensos e irreversíveis".

A região do Ártico continuará com um aquecimento mais rápido que a média do planeta. As ondas de calor serão mais frequentes e a ocorrência de ondas de frio serão menos frequentes, na maior parte do planeta.

Já as mudanças que envolvem as precipitações não serão uniformes: precipitações anuais em alta no Pacífico equatorial, nas latitudes elevadas e nas regiões úmidas das latitudes médias; em queda nas regiões subtropicais secas.

O oceano vai continuar com temperatura em alta e com o processo de acidificação e o aumento do nível do mar vai prosseguir a um ritmo mais acelerado que entre 1971 e 2010: pode alcançar entre 26 cm e 82 cm, em função das emissões entre 1986-2005 e do fim do século 21. A alta não será uniforme em todo o planeta.

A camada de gelo ártica será menos extensa em todos os períodos do ano e o volume global das geleiras, com exceção da Antártica, deve cair entre 15% e 55% com o cenário menos intenso das emissões, e de 35% a 85% com a trajetória mais elevada.

Haverá maior risco de extinção de várias espécies (animais ou vegetais) sem capacidade de adaptação e os ecossistemas marinhos estarão expostos a níveis de oxigênio menos elevados e a um meio mais ácido.

Haverá efeitos na economia?

A segurança alimentar será afetada especialmente nas regiões que dependem da pesca. O painel aponta ainda queda nos rendimentos dos cereais (trigo, arroz, milho) nas regiões temperadas e tropicais.

Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2014/11/1542183-mudanca-climatica-causas-impactos-e-sugestoes-para-permanecer-abaixo-dos-2c.shtml

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Amazônia já está entrando em pane, afirma cientista (Folha de São Paulo)

Com 20% da floresta desmatada outros 20% degradados, a floresta amazônica já começa a falhar em seu papel de regulação do clima da América do Sul, diz o biogeoquímico Antônio Nobre, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
A pedido de ONGs ambientalistas coordenadas pela ARA (Articulação Regional Amazônica), Nobre publicou um relatório revisando 200 estudos sobre o cenário de pesquisa na área, e concluiu que a floresta já dá sinais de desgaste em seu papel de bombear umidade do oceano para o interior da América do Sul, entre outros problemas.
O papel de "bomba d'água biótica" que a floresta exerce, demonstrado por trabalhos anteriores do próprio Nobre, pode estar em risco.
A consequência disso, afirma o cientista, é que chuvas dentro do bioma e também num polígono ao sul do continente, a leste dos Andes, podem não chegar com a mesma regularidade.
Para reverter a situação, Nobre diz que a solução é não apenas parar o desmatamento mas também iniciar um amplo processo de reflorestamento, pois a seca que a região Sudeste vive hoje já pode ser resultado da destruição da Amazônia.
Nobre diz ter ficado "assombrado" com a quantidade de evidências recentes que encontrou para esse fenômeno em estudos de revisão publicados em revistas científicas indexadas. Mas preferiu publicar suas conclusões primeiro em um relatório em linguagem voltada ao público em geral.
"Falar disso para os cientistas é meio como pregar o pai-nosso para o vigário", disse Nobre ontem num evento em São Paulo, onde o trabalho foi lançado. A decisão de publicar um estudo em linguagem acessível também se deu por uma vontade de prestar contas de suas pesquisa à sociedade, diz o cientista.
"É uma decisão arriscada da minha parte, mas o 'peer review' [sistema de revisões independentes adotado por revistas científicas técnicas] dificulta muito esse tipo de analise integrativa", afirmou.
O relatório de Nobre, intitulado "O Futuro Climático da Amazônia", cita trabalhos mais atualizados do que aqueles apresentados no último relatório do IPCC (painel do clima da ONU), por exemplo, que não previa problemas tão graves na região.
O painel foi mais reticente em afirmar, por exemplo, que a Amazônia pode se transformar em uma savana no futuro, impulsionada pelo aquecimento global, conclusão antes tida como mais segura.
"Como nenhum modelo climático atual incorpora os mecanismos e os efeitos previstos pela teoria da bomba biótica de umidade, principalmente nos potenciais efeitos das mudanças na circulação do vento, suas projeções podem ser incertas", escreve Nobre no relatório.
Para o cientista, outro fator também vinha sendo subestimado em alguns modelos matemáticos que tentam reproduzir a interação entre a floresta e o clima: a degradação florestal, os trechos de vegetação que já perderam boa parte de suas árvores e sua biodiversidade, mas que aparecem como floresta intacta em fotos de satélites.
Isso faz com que 40% da floresta esteja prejudicada em diferentes níveis, porcentagem similar à que alguns estudos previam como o ponto de virada no qual a floresta não mais conseguiria se sustentar sozinha, incapaz de garantir a própria umidade.
"A gente já está chegando nesse 'tipping point', e a capacidade de compensação do sistema não está mais aguentando", diz.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Novo estudo analisa o futuro climático da Amazônia - INPE

Pela primeira vez, um mesmo relatório reúne e analisa informações de aproximadamente duzentos dos principais estudos e artigos científicos sobre o papel da floresta amazônica no sistema climático, na regulação das chuvas e na exportação de serviços ambientais para áreas produtivas, vizinhas e distantes da Amazônia. 



Lançado no dia 30/10/14, na cidade de São Paulo, o relatório intitulado “O Futuro Climático da Amazônia” conclui que a redução do desmatamento não basta para garantir as funções climáticas do bioma. 
Além de manter a floresta amazônica a qualquer custo é preciso confrontar o passivo do desmatamento acumulado e começar um amplo processo de recuperação do que foi destruído, que somente no Brasil equivale a uma área de 184 milhões de campos de futebol”, defende o pesquisador Antonio Donato Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), responsável pelo relatório. 

A análise revela o potencial climático da floresta pristina, chamada pelos cientistas de “oceano verde”, e os impactos de sua destruição com o desmatamento e o fogo. Aponta ainda as ações para conter os efeitos no clima provocados pela ação humana sobre a maior floresta tropical do mundo. 

O trabalho inova ao revelar os segredos que fazem da Amazônia um sistema único no planeta, com funções que começam a ser compreendidas pelos cientistas. O primeiro deles é que a floresta mantém úmido o ar em movimento, o que leva chuvas para as regiões interiores do continente, distantes milhares de quilômetros do oceano”, informa Nobre. 

A Amazônia, explica o pesquisador, tem outra peculiaridade. Ela ajuda a formar chuvas em ar limpo. É que as árvores emitem aromas a partir das quais se formam sementes de condensação do vapor d’água, cuja eficiência na nucleação de nuvens resulta em chuvas fartas e benignas. Além de manter o ar úmido sobre si mesma, a floresta amazônica exporta essa umidade por meio de rios aéreos de vapor, os chamados “rios voadores”, que irrigam o Sudeste, Centro-oeste e Sul do Brasil e áreas como o Pantanal e o Chaco, além da Bolívia, Paraguai e Argentina. “Sem os serviços da floresta, essas produtivas regiões poderiam ter um clima inóspito, tendendo a desértico”, diz o autor. 

Segundo Nobre, essa competência de regular o clima se dá principalmente pela capacidade inata das árvores de transferir grandes volumes de água do solo para a atmosfera através da transpiração. São 20 bilhões de toneladas de água transpiradas ao dia, o equivalente a 20 trilhões de litros. Para se ter uma ideia, o volume despejado no oceano Atlântico pelo rio Amazonas é de pouco mais de 17 bilhões de toneladas diariamente. “As árvores funcionam como gêisers de madeira, jorrando esse volume absurdo de água vaporosa na atmosfera”. 

Nobre explica que a ideia de avaliar diversos estudos e condensar suas conclusões em um único relatório foi motivada por um pedido da Articulación Regional Amazónica(ARA), uma iniciativa não governamental que reúne organizações dos países amazônicos para discutir e combater o desmatamento. 

Danos e mitigação 

Uma nova teoria física descrita no relatório sustenta que a transpiração abundante das árvores, casada com uma condensação fortíssima na formação das nuvens e chuvas – condensação essa maior que aquela nos oceanos contíguos –, leva a um rebaixamento da pressão atmosférica sobre a floresta, que suga o ar úmido sobre o oceano para dentro do continente, mantendo as chuvas em quaisquer circunstâncias. 

Para Nobre, todos esses efeitos favorecedores, em conjunto, fazem da floresta a melhor e mais valiosa parceira de todas as atividades humanas que requerem chuva na medida certa, um clima ameno e proteção de eventos extremos. “Mas o desmatamento pode colocar todos esses atributos da floresta em risco. Reconhecidos modelos climáticos anteciparam variados efeitos danosos do desmatamento sobre o clima, previsões que vêm sendo confirmadas por observações. Entre elas estão a redução drástica da transpiração, a modificação na dinâmica de nuvens e chuvas e o prolongamento da estação seca nas zonas desmatadas. Outros efeitos não previstos, como o dano por fumaça e fuligem à dinâmica de chuvas, mesmo sobre áreas de floresta pristina, também estão sendo observados”, diz o autor do relatório. 

Nobre ressalta que estudos sugerem que a floresta, na sua condição original, resistiu por dezenas de milhões de anos e tem grande resistência a cataclismos climáticos. “Mas quando é abatida ou debilitada por motosserras, tratores e fogo sua imunidade é quebrada”. Em seus cálculos, Nobre afirma que a ocupação da Amazônia já destruiu no mínimo 42 bilhões de arvores, ou seja, mais de 2.000 arvores por minuto –ininterruptamente - nos últimos 40 anos. “O dano de tal devastação já se faz sentir no clima próximo e distante da Amazônia, e os prognósticos indicam agravamento do quadro se o desmatamento continuar e a floresta não for restaurada”. 

Entre as medidas mitigadoras, o relatório propõe “universalizar o acesso às descobertas científicas que podem reduzir a pressão da principal causa do desmatamento: a ignorância”. 

Para José Marengo, pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) e colaborador do INPE em projetos na área de mudanças climáticas, a floresta Amazônica certamente tem um papel importante na regulação no clima regional e global e também nos transportes de umidade para grandes regiões da América do Sul. 
Este relatório apresenta e avalia muito bem as pressões sobre a região, e as possíveis consequências do desmatamento nos sistema naturais e humanos. Apresenta também uma visão clara sobre as vulnerabilidades do bioma Amazônia no presente e no futuro, e discute as medidas que devem ser implementadas para estancar a degradação da floresta”, diz Marengo. 

Jean Ometto, coordenador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do INPE, ressalta que a relação entre o homem e bens naturais deve resgatar sinergias positivas, que pautaram diversos momentos, e civilizações, ao longo da evolução da presença humana no planeta. 
Os efeitos de ações unilaterais, de interesses vis, ou efêmeros, são danosos e têm reflexos muito além das fronteiras destas ações, como mostrado nesse relatório, que faz um alerta sério sobre a importância de olhar, pensar e agir no planeta de forma integrada”, fala Ometto.

Fonte: http://www.inpe.br/noticias/noticia.php?Cod_Noticia=3749