quinta-feira, 14 de março de 2013

As Transformações Começam Conosco - Monja Coen



Há um antigo ditado japonês:
"Se houver relacionamento, faço; se não houver relacionamento, saio".
Um Mestre Zen, no final do século passado, fez a seguinte alteração:
"Havendo relacionamento, faço; não havendo, crio relacionamento".

Essa mudança de paradigma é extremamente importante. Devemos também lembrar que criar um relacionamento não significa, necessariamente, obter resultados imediatos, embora muitas vezes estes ocorram.

Novos relacionamentos em padrões antigos perdem seu significado. Precisamos criar relacionamentos a partir de novas maneiras de nos relacionar, de ver o mundo, de ser, de inter ser. Essa nova maneira pode, inclusive, recarregar de energia positiva antigos relacionamentos.

Para descobrirmos novas maneiras precisamos, primeiramente desenvolver a capacidade de perceber como estão nossos relacionamentos atuais.

Observe e considere meticulosamente a si mesmo. Perceba como está se relacionando em casa, na rua, no trabalho, no lazer. Perceba como respira, como anda, como toca nos objetos, como usa sua voz, como são seus gestos e como são seus pensamentos e os não pensamentos. Esse observar não deve ser limitante, constrangedor, confinador. Apenas observe. Como você se relaciona com o meio ambiente, biodiversidade, reciclagem, justiça social, melhor qualidade de vida, guerras, violência, terror, paz, harmonia, respeito, garantia dos Direitos Humanos? Como você e o seu logos se relacionam entre si e em relação aos projetos de sucesso, de lucro, de desenvolvimento e progresso de sua organização?
Como está se relacionando com o mais íntimo de si mesmo, com a essência da Vida, com o Sagrado?

Será que é capaz de ver, ouvir, sentir e perceber a rede de inter relacionamentos de que é feita a vida? Percebe e leva em consideração, na tomada de decisões, a interdependência?

Tanto individualmente, como no coletivo, nossa participação e compreensão como estão? 


Será que estamos conscientemente vivendo nossas vidas e direcionando nossos pensamentos, ações e palavras para o sentido de mudança que queremos e sonhamos?

Mahatma Gandhi disse: "Temos de ser a transformação que queremos no mundo".
Geralmente pensamos no mundo como alguma coisa distante e separada de nós, mas nós somos a vida do universo em constante movimento. Podemos até dizer que o mundo somos nós. Nossa vida forma o mundo, é o mundo, não apenas está no mundo. Inclui todas as formas de vida e seus derivados e nos inclui neste instante, instante após instante. 
Há um monge chinês do século VII, Gensha Shibi , que dizia : "O Universo é uma jóia arredondada. Somos a vida desse universo em constante transformação. Nada vem de fora, nada sai para fora".

De momento a momento tudo está mudando, nós fazemos parte dessa mudança e podemos escolher, discernir qual o caminho que queremos dar a esse constante transformar. É por isso que digo que a transformação começa em nós. Na verdade vai além de apenas começar. É em nós. Nossa capacidade humana de inteligência e compreensão nos permite fazer escolhas. E o que estamos escolhendo?

Outra frase de Mahatma Gandhi:
"Quando uma pessoa dá um passo em direção à Paz, toda a humanidade avança um passo em direção à Paz".






 

A minha decisão, a sua decisão pode transformar ou influenciar a direção da mudança.

Há um sutra budista que descreve o mundo como uma rede de inter relacionamentos. 


Como se fosse uma imensa teia de raios luminosos e em cada intersecção uma jóia capaz de receber essa luz e emitir raios em todas as direções. Qualquer pequena mudança afeta o todo. Cada ser que se transforme em um ser de paz, de harmonia, de ternura, carinho e respeito pela vida em todas as suas formas estará sendo uma mudança viva e influenciando tudo e todos.

Qual o primeiro passo? Conhecer a si mesmo. Conhecer nossos mecanismos.

O que nos afeta, nos incomoda? O que nos alegra? O que nos irrita? Como transformar a raiva em compaixão? Como transformar o desafio em competição leal, justa, empreendedora, enriquecedora? Sem nos preocuparmos com os créditos, se formos capazes de fazer o bem, não fazer o mal, fazer o bem aos outros estaremos transformando nossos lares, nossas amizades, nosso ambiente de trabalho, nossas organizações, nossas cidades, estados, países, nações, mundo... e a nós mesmos...no florescimento da Cultura da Paz.
"Estudar o Caminho de Buda é estudar a si mesmo. Estudar a si mesmo é esquecer-se de si mesmo. Esquecer-se de si mesmo é ser iluminado por tudo que existe. Transcender corpo e mente seu e dos outros. Nenhum traço de iluminação permanece e a Iluminação é colocada à disposição de todos os seres." (Mestre Zen Eihei Dogen - 1200-1253).

É importantíssimo que iniciemos este "estudar a si mesmo", já. Cada um de nós que perceber seu próprio mecanismo ficará em controle desse mecanismo e não mais à mercê de seus sentimentos e emoções, desejos e frustrações, puxado, empurrado, espremido e puxando, empurrando, espremendo - envenenados pela ganância, raiva e ignorância.

Imagine um mundo aonde podemos brilhar uns para os outros, sem ódios, mas com carinhoso respeito e terna compreensão. Percebendo nossas diferenças, aceitando a diversidade da vida, as diversidades entre as pessoas e juntando nossas capacidades tanto intelectuais como físicas na construção desse verdadeiro Céu, Paraíso, Terra Pura, Shambala de que falam as religiões, todas elas.

Cabe a nós, a cada um de nós criar esse relacionamento de carinho com a vida, de ternura com todos os seres, de compreensão, de sabedoria e compaixão para percebermos o Caminho Iluminado e o Nirvana permeando toda a existência.

Isso é dar vida à nossa própria vida.
Fonte: http://sabedoriaquantica.blogspot.com.br/2013/01/as-transformacoes-comecam-conosco.html?spref=fb

quarta-feira, 6 de março de 2013

Mahatma Gandhi - "Sobre Deus" (On God)


Há um poder misterioso e indefinível

que permeia todas as coisas,

eu o sinto apesar de não enxergá-lo.

É esse poder invisível que se faz sentir

e desafia todas as evidências,

porque é tão diferente de tudo o que eu percebo através de meus sentidos.

Ele transcende os sentidos.

Mas é possível concluir através da razão a existência de Deus

até certo ponto.

Até mesmo nas atividades corriqueiras,

nós sabemos que as pessoas não sabem quem governa

ou porque e como Ele governa,

e ainda assim eles sabem que há um poder que certamente governa.

Durante meu tour no ano passado à cidade de Mysore,

eu conheci aldeões muito pobres e descobri,

após questioná-los, que eles não sabiam quem governava Mysore.

Eles simplesmente disseram que algum deus governava o local.

Se o conhecimento dessas pobres pessoas era tão limitado

a respeito de seu governante,

não seria surpresa se eu,

que sou infinitamente menor do que Deus,

do que eles são de seu governante,

não percebesse a presença de Deus - o Rei dos reis.

Contudo, eu sinto assim como os pobres aldeões de Mysore,

que há uma ordem no universo,

há uma lei imutável governando todas as coisas

e todos os seres que já existiram e existem.

Não é uma lei cega,

pois nenhuma lei cega pode governar a conduta de um ser um vivo,

e graças à pesquisa maravilhosa do Senhor J. C. Bose

Foi comprovado que até a matéria possui vida.

Essa lei que governa toda a vida é então Deus.

Lei e o doador-de-leis são um.

Eu não posso negar a lei ou o doador-de-leis

porque O conheço tão pouco

A minha negação ou ignorância

da existência de um poder terreno não vai evitar nada,

minha descrença em Deus e em Sua Lei não vai me liberar de suas operações

Enquanto humildade e silêncio quanto à autoridade divina

deixam a jornada da vida mais fácil

mesmo a aceitação de uma lei terrena deixa a vida mais fácil.

Eu percebo vagamente que enquanto tudo ao meu redor

está sempre mudando, sempre morrendo,

há por trás de todas essas mudanças uma força viva que é imutável,

que mantém todas as coisas juntas.

Que cria, dissolve e recria.

Esse poder espiritual informativo é Deus,

e já que nada do que eu meramente vejo através dos sentidos

pode ou vai persistir, Ele sozinho, persiste.

E esse poder é benévolo ou malévolo?

Eu o vejo como puramente benévolo,

porque enxergo que no meio de tantas mortes,

a vida persiste,

no meio de tanta injustiça a verdade persiste,

no meio da escuridão a luz persiste.

Portanto eu concluí que Deus é vida, verdade, luz.

Ele é amor. Ele é o Bem supremo.

Ele não é meramente um deus que satisfaz o intelecto,

se alguma vez o satisfaz.

Deus para ser Deus tem que governar o coração e transformá-lo.

Ele precisa se expressar em cada minúscula ação de seu partido.

Isso só pode ser feito através de uma percepção definitiva,

mais real do que os cinco sentidos podem captar.

Percepções sensoriais podem e são com freqüência,

falsas e enganosas, apesar de nos parecerem reais.

Aonde há percepção fora dos sentidos há infalibilidade.

Isto é provado não por evidências externas,

mas nas transformações da conduta e caráter

daqueles que realmente sentiram a presença interna de Deus.

Tais depoimentos são encontrados nas experiências

de linhagens contínuas de profetas e sábios em todos os países e climas.

Rejeitar essa evidência é rejeitar a si mesmo.

Essa compreensão é precedida por uma fé inabalável.

Aquele que testar a realidade em si mesmo da presença de Deus,

pode fazê-lo através de uma fé sincera,

mas já que a fé em si mesma não pode ser comprovada

com evidências externas,

o caminho mais seguro é acreditar na moral do governo mundial e

portanto na supremacia da lei moral, da lei da verdade e do amor.

Um exercício de fé seria o caminho mais seguro,

aonde há uma clara e majoritária determinação

para rejeitar tudo o que é contrário à verdade e ao amor.

Eu confesso que não tenho argumentos racionais para convencê-los.

A fé transcende a razão.

Tudo o que lhes posso aconselhar é que não tentem o impossível.