segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Os vários métodos de meditação e aquilo do qual ninguém escapa: a visão do monge Ajahn Chah

Se em 1972, ano em que essa pergunta foi feita, já se sentia confusão pelos inúmeros sistemas de meditação existentes, imagine agora, mais de 40 anos depois - que é pouco tempo se levarmos em consideração a história do Ioga e do Budismo, mas um tempo grande se olharmos para a enorme explosão mundial do acesso à informação (via redes de televisão, Internet, etc) e a velocidade de propagação a todos os cantos do mundo que aconteceu nesse pequeno período. 

O venerável mestre budista Ajahn Chah (Phra Bodhiñana Thera, 1918-1992), da Thai Forest Tradition, um dos responsáveis pelo estabelecimento do Budismo Theravada no Ocidente, responde à pergunta de um monge sobre qual ou quais as diferenças entre os sistemas de meditação existentes, e como lidar com a confusão de tantos professores e sistemas. A pergunta foi disponibilizada em inglês no site de Ajahn Chah, foi traduzida por este blog (dharmalog) e está publicada abaixo, em mais um pequeno exemplo de como a informação é oferecida e viaja rápido e longe, multiplicando o conhecimento de cada vez mais escolas e ensinamentos e visões sobre as práticas de auto-conhecimento. 

Como um aprendiz e também como jornalista, já fiz (e ainda faço, de certa forma) isso que Ajahn Chah fala na resposta, de procurar conhecer sistemas diferentes e métodos de meditação e auto-conhecimento diversos. Vejo que quase todo mundo faz isso um pouco, até pela quantidade de livros e sites disponíveis hoje. É um efeito colateral desta nossa era da informação. A leitura, a descoberta, a tradução e a disponibilização desse tipo de ensinamento também é um dos objetivos deste site. Mas percebi também que o mergulho e dedicação profundas a uma escola que sentimos nos falar intimamente e o contato verdadeiro com um professor ou mestre são o início real do encontro com si mesmo. Hoje quase todo mundo é auto-didata, mas esse é um campo difícil demais. Mesmo Buda, Dogen, Adi Shankara, Sri Ramana Maharshi e outros grandes buscaram mestres e se dedicaram à prática com a ajuda deles, pelo menos por algum tempo.

Mas vamos à resposta de Ajahn Chah.

Pergunta: E os outros métodos de prática? Em nossa época parece haver tantos professores e tantos sistemas diferentes de meditação que chega a ser confuso.

Ajahn Chah: “É como ir pra cidade. Você pode chegar pelo Norte, pelo Sudeste, por muitas estradas. Geralmente esses sistemas só diferem externamente. Seja qual for a maneira que você percorra uma ou outra, rápido ou devagar, se você for consciente, é tudo a mesma coisa. Há um ponto essencial que toda boa prática deve eventualmente chegar – não se apegar (segurar). No fim, todos os sistemas de meditação devem ser abandonados. E também a pessoa não pode se apegar ao professor. Se um sistema leva ao desapego, a não segurar, então é prática correta. Você pode desejar viajar, visitar outros professores e experimentar outros sistemas. Alguns de vocês já fizeram isso. É um desejo natural. Você vai descobrir que mil perguntas feitas e o conhecimento de muitos sistemas não leva você à verdade. Eventualmente você vai ficar cansado. Você verá que apenas parando e examinando sua própria mente você pode encontrar o que falava Buda. Não há necessidade de buscar fora de si mesmo. Eventualmente você deve retornar e encarar sua própria natureza verdadeira. Aqui é onde você pode entender o Dharma.”

http://dharmalog.com/2014/12/04/metodos-meditacao-natureza-verdadeira-desapego-ajahn-chah/

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

A conquista do mundo das ilusões (Maya) pela meditação, na visão do grande yogue Swami Sivananda

Onde está a ilusão? Consigo ver? Como ela chega até mim? Ou sou eu que crio? O que faço com ela? Perguntas respondidas diversas vezes nos mais de 200 livros escritos pelo célebre yogue indiano Sri Swami Sivananda (1887-1953), como no trecho abaixo, com respostas sobre como podemos finalmente nos libertar das ilusões e do sofrimento (através da meditação). Não é uma explicação detalhada ou extensa, mas cada frase tem grande concentração de definições e direção, como por exemplo “são as ações da mente que são verdadeiramente denominadas Karmas“. Assim, há outras frases que precisam de reflexão, e idealmente a leitura da obra completa, embora seja difícil reproduzir textos e livros inteiros de alguns autores aqui – para quem quiser, o texto completo que traz os trechos abaixo está  em (“Mind, Its Misteries and Control“, The Divine Life Society Publication, 1998), em inglês.
Apenas um cuidado especial neste trecho com a expressão “a destruição da mente“, pois alguém pode acabar tomando isso por alguma destruição física, um auto-flagelo ou algo assim (já aconteceu isso num post que usava uma expressão muito parecida). A destruição da mente nesse trecho segue o sentido de uma expressão mais à frente neste mesmo texto: “o destronamento da mente“. É praticamente o mesmo sentido do Bhavagad Gita, quando a mente senta para o controle da charrete ser feito pela consciência. Se houver qualquer dúvida, a coisa certa a se fazer é ler o livro completo.
Os trechos abaixo fazem parte dos capítulos “A Indispensabilidade da Meditação para a Percepção Real de Deus” (Indispensability Of Meditation For God-Realisation), “Condições para a Percepção Real de Si Mesmo” (Conditions for Self-Realization) e “Como Destruir a Inveja” (How To Destroy Jealousy), do compêndio “O Que é Meditação” (What is Meditation), não disponível em português (a tradução abaixo foi feita por este que escreve).

“Todas as coisas visíveis são Maya. Maya desaparece através da sabedoria (Jnana), ou da meditação no Espírito (Atma). Deveríamos trabalhar para nos livrarmos de Maya. Maya nos atinge através da mente. A destruição da mente significa a aniquilação de Maya. A meditação profunda e repetida é a única maneira de conquistar Maya. O Senhor Buda, o Raja Bhartrihari, Dattatreya  e o Akhow de Gujarat – todos conquistaram Maya e a mente somente pela meditação profunda. Entre no silêncio. Medite. Medite. Solidão e intensa meditação são dois requisitos importantes para a auto-realização.

(…) São as ações da mente que são verdadeiramente denominadas Karmas. Assim que a pernambulação e distração da mente se vai, você terá uma boa meditação. A verdadeira liberação resultado no desentronamento da mente. Aqueles que libertaram a si mesmos das flutuações de suas mentes ganham a posse do Nishtha supremo (meditação). A mente deveria ser limpa de todas as suas impurezas, então ela se torna muito calma e todas as ilusões que aparecem nos nascimentos e mortes são destruídas.

(…) Se você colocar um grande espelho em frente a um cachorro e colocar um pedaço de pão na frente, o cachorro começará a latir ao olhar seu reflexo no espelho. Ele imagina tolamente que há um outro cachorro. Da mesma forma, o homem vê apenas seu próprio reflexo, através da mente-espelho, em todas as pessoas, mas imagina tolamente, como o cachorro, que são todos diferentes dele e luta contra o ódio e a inveja”.

~ Swami Sivananda, em “What Is Meditation?”