segunda-feira, 1 de abril de 2013

Autopercepção E Não Autoconsciência - OshO


A AUTOCONSCIÊNCIA é uma doença, enquanto a autopercepção é saúde. Qual é a diferença? As palavras aparente mente querem dizer a mesma coisa. Podem até significar a mesma coisa, mas, quando as uso, são diferentes.
Quando falo em autoconsciência, a ênfase está no eu. Quando falo em autopercepção, estou falando de percepção. Se quiser, você pode usar a mesma palavra, autoconsciência, para as duas coisas. Se a ênfase for na “consciência” será saudável. É uma diferença muito sutil, mas muito importante.
A autoconsciência é uma doença porque ela significa que você está permanentemente consciente do seu “eu” Você fica pensando: “Como as pessoas estão se sentindo a meu respeito?”, “Como estão me julgando?”, “Qual será a opinião delas: será que gostam de mim ou não, será que me aceitam ou me rejeitam, será que me amam ou me odeiam?”. Você está sempre concentrado no “mim”, no “eu”, o centro é sempre o ego. Isso é uma doença, o ego é a pior doença que existe.
Contudo, se você mudar o foco, se deslocar a ênfase do ego para a consciência, não se preocupará se as pessoas o aceitam ou o rejeitam. Nesse caso, a opinião delas não importa, tudo o que você quer é estar alerta em todas as situações. Assim, não é importante se elas o amam ou odeiam, se o consideram um santo ou um pecador, nada disso importa. O que dizem ou pensam de você não lhe diz respeito, é problema delas, elas devem decidir por conta própria. Você só tenta estar alerta em todas as ocasiões.
Talvez alguém se aproxime e se curve diante de você, dizendo que você é um santo. Você não deve se preocupar com o que essa pessoa diz ou no que ela acredita. Deve apenas permanecer alerta para que essa pessoa não o arraste de volta à não-percepção, só isto. Da mesma forma, se alguém o insultar e agredir, não se importe com isso. Apenas tente ficar alerta e você permanecerá intocado — esta pessoa não pode arrastá-lo para lugar algum.
Agindo assim, você será sempre o mesmo, ao ser elogiado ou condenado, no sucesso ou no fracasso. Através de seu estado de percepção, você atinge uma tranquilidade que não pode ser perturbada de forma alguma. Você se liberta das opiniões das pessoas.
Essa é a diferença entre um religioso e um político. O político está sempre consciente do “eu”, sempre preocupado com a opinião alheia. Ele depende dos votos e da opinião alheia. Os outros são seus mestres e também aqueles que decidem por ele. Já uma pessoa religiosa domina seu próprio ego, ninguém pode tomar decisões por ela, que não depende de votos nem opiniões. Se você for até ela, tudo bem. Se você não for, tudo estará bem da mesma forma. Não há problema algum, ele continua sendo o mesmo ser.
Agora gostaria de dizer algo que parece paradoxal, mas, apesar disso, é a mais pura verdade: as pessoas que são autoconscientes — com ênfase no ego — não possuem ego. É por isso que são tão autoconscientes, porque têm medo de que alguém possa arrancar seu ego. Essas pessoas não são senhoras de si, pois seu ego foi tomado emprestado de outras pessoas. Pensando dessa forma, se alguém lhes sorri, seu ego é acariciado. Se alguém as ofende, algo terá sido subtraído e sua estrutura ficará abalada. Se alguém está com raiva, elas ficam com medo. Se todo mundo ficar com raiva ao mesmo tempo, para onde elas irão, quem serão elas? Sua identidade estará quebrada. Se todo mundo sorrir e disser: “Você é ótimo”, então elas serão ótimas.
A pessoa que é religiosa e autoconsciente — com ênfase na consciência — possui um ego autêntico. Você não pode tirar esse ego dela, não pode dar-lhe um, ela o atingiu por si mesma. Se o mundo inteiro ficar contra ela, seu ego lhe fará companhia. Se o mundo todo a seguir, seu ego não será inflado. Ela possui uma realidade autêntica, um centro.
Uma pessoa política não possui um centro, tenta criar um falso. Ela pega algo emprestado de você, um pouco de outra pessoa, é assim que funciona sua vida. Uma falsa identidade, uma colagem da opinião de várias pessoas, essa é sua identidade. Se o povo se esquecer dela, estará perdida, no meio do nada. Na verdade, será um ninguém.
Por exemplo, se uma pessoa se tornar presidente, subitamente ela será alguém. Quando deixar de ser presidente, será um ninguém. Todos os jornais o esquecerão. Será lembrado apenas no dia de sua morte e, mesmo assim, haverá apenas umas poucas linhas no obituário. Será lembrado apenas como um ex-presidente, o antigo ocupante de um cargo qualquer, não como um ser humano. O que aconteceu? Um homem desapareceu, apenas isso. Enquanto você ocupa um cargo, você está na primeira página de todos os jornais e revistas. Não é você que importa, mas o seu cargo.
Assim, todos os que são pobres por dentro estão sempre em busca de uma posição, dos votos das pessoas, de opiniões. É assim que procuram desenvolver uma alma — obviamente, uma falsa alma.
Os psicólogos conseguiram chegar ao cerne do problema. Eles dizem que quem tenta ser superior sofre de um complexo de inferioridade, e que as pessoas que são realmente superiores não dão a mínima para isso. São tão superiores que nem sequer percebem que o são. Apenas uma pessoa inferior pode estar consciente de sua superioridade — e é facilmente ofendida nesse ponto. Basta você insinuar que ela não é tão maravilhosa quanto pensa para deixá-la com raiva.
Apenas uma pessoa superior pode ficar para trás, ser a última da fila. Todos os que se sentem inferiores estão tentando chegar ao primeiro lugar, porque pensam que, se forem os últimos, não serão alguém. Eles têm necessidade de estar na frente, de viver na capital. Precisam ter muito dinheiro e morar em mansões, precisam ser isto ou aquilo. As pessoas que se sentem inferiores sempre tentam provar sua superioridade através de seus bens materiais.
Resumindo, as pessoas que não têm um ser tentam se tornar um ser através das coisas: cargos, nomes ou fama.
Li em um livro sobre Lenin que um dia alguém o convidou a ouvir as sinfonias de Beethoven. Ele recusou enfaticamente. Na verdade, foi até mesmo um pouco agressivo em sua resposta. O homem que o convidara ficou incrédulo e quis saber o motivo. “Por quê? As sinfonias de Beethoven estão entre as maiores criações do homem.” Lenin respondeu: “Talvez, mas toda boa música é contrária a revoluções porque propicia um contentamento muito profundo e, desta forma, a música pacifica as pessoas. Portanto, sou contra todo e qualquer tipo de música.”
Se boa música se espalhasse pelo mundo, as revoluções desapareceriam. A lógica é relevante! O que Lenin está dizendo é verdade para todos os políticos. Eles não gostariam que a boa música se difundisse no mundo, não querem grande poesia, nem grandes meditadores, não querem pessoas em êxtase nem euforia, porque, se isso tudo ocorresse, qual seria o destino das revoluções e das guerras? O que aconteceria com todas as bobagens que acontecem no mundo?
As pessoas precisam permanecer sempre em um estado febril, pois só assim podem ajudar os políticos. Se o povo estiver satisfeito, contente, feliz, quem se importará com o governo? As pessoas o esqueceriam completamente. Elas apenas iriam querer dançar, ouvir música e meditar. Neste cenário, que importância teria o presidente americano? Nenhuma. Mas quando as pessoas que não têm um “eu” não estão satisfeitas, elas continuam a apoiar outros “eus” porque esta é a única maneira que têm para obter apoio para suas próprias existências.
Lembre-se de que a autoconsciência — com ênfase no ego — é uma doença muito grave e profunda. Você deve se livrar dela. A autoconsciência — com ênfase na consciência — é uma das coisas mais sagradas que existem no mundo porque pertence a pessoas sadias, que alcançaram seu centro. Elas são conscientes. Não são pessoas vazias, mas realizadas.
OSHO, “Aprendendo a Silenciar a Mente”

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