No contexto do movimento altermundialista (o termo teve origem no lema "Um outro mundo é possível"),
dois conceitos ou duas propostas de ação surgem com grande força, reunindo
inúmeros atares no mundo inteiro em torno daquilo que chamamos de consumo responsável e de comércio justo. Ambos os movimentos partem da noção de que, diante
das conseqüências dos modelos dominantes de distribuição nos termos da exclusão
social e da destruição ambiental, os: setores mais conscientes da sociedade
civil devem buscar novas formas de produzir riqueza e de redistribuí-la de
maneira justa, assegurando os direitos de acesso ao consumo para todos, a
construção de uma cultura de paz e de relações mais democráticas, bem como a
preservação do planeta.
É nessa
perspectiva que os movimentos de consumo responsável e do comércio justo,
apesar de suas histórias e passes próprios, procuram construir juntos, no
Brasil, na França e no mundo como um todo, caminhes convergentes na direção da
justiça social e da sustentabilidade socioambiental.
O Consumo Responsável
O que nós
entendemos por consumo responsável?
Geralmente, antes
de comprar um produto, os consumidores perguntam:
Quanto isso custa?
Qual é a marca?
Qual o tipo de material
utilizado?
Tais informações,
normalmente, podem ser obtidas pela observação do produto ou pela consulta ao
vendedor. Mas será que essas informações são suficientes para escolher um
produto com responsabilidade?
Outras questões
poderiam ser propostas:
Quem participou do
processo produtivo e em que condições?
Como foi utilizada a
matéria-prima?
A fábrica preocupou-se em
minimizar o impacto ambiental causado pelo seu processo produtivo?
Na maioria dos
casos, quando são levantadas, essas questões ficam sem resposta, porque os
vendedores e mesmo o proprietário da loja não sabem nada a respeito. E não é a
publicidade promovida pela marca ou pelo produto em questão que informará tais
aspectos.
A partir do
momento em que surge o interesse em relação aos processos produtivos e
comerciais, o consumidor- como elo final de toda a cadeia: produtiva - inicia
um percurso à procura de informações, dados, opções, alternativas: E,
finalmente, ele poderá constatar que muitas dessas questões têm respostas, o
que precisamos é saber procurá-las, classificá-las e ponderá-las em nossas
decisões de escolha.
Eis o principio
básico do conceito de Consumo Responsável definido pelo Instituto Kairós
como: a capacidade de cada pessoa ou instituição, pública ou privada, escolher
bens e serviços, de maneira ética, para melhorar a qualidade de vida de cada
um, da sociedade e do ambiente.
Assim, podemos considerar
como consumidor responsável aquele indivíduo que inclui uma série de
questionamentos em seus hábitos de consumo, ou seja, que enxerga a relação
entre as suas escolhas diárias de consumo e as questões socioambientais
presentes na sociedade atual. A partir dessa consciência, busca caminhos
alternativos para atuar e apoiar relações produtivas e comerciais mais
coerentes com aquilo que valoriza, como o respeito, o equilíbrio e a própria
vida de todos nós e do planeta que nos abriga.
Escolher produtos
ou serviços de forma responsável a partir de critérios coerentes com a
sustentabilidade socioambiental é, assim, uma forma de dizer ao mundo quais
valores queremos perpetuar:
Um mundo de desigualdade
ou de justiça social?
De poluição ambiental ou
de sustentabilidade ambiental?
De acumulação de capital
ou distribuição igualitário de renda?
Eis a alma do
Consumo Responsável:
Estimular a reflexão e a
prática sobre o poder político existente em cada pequeno ato de escolha, em
cada opção de consumo que fazemos, e, assim, estimular atitudes responsáveis,
compro metidas com o mundo, com as pessoas e com a vida como um todo!
Vale salientar
que, por mais que essas idéias pareçam novas, ou que a proposta do consumo
responsável pareça algo pouco experimentado, suas raízes históricas são
profundas e residem em momentos distintos ao longo -da história da humanidade. A resistência pacífica, a não violência e o boicote, por exemplo, foram práticas utilizadas para combater
as mais diversas situações de injustiça.
Gandhi - enquanto líder político da Índia, na época colônia
inglesa - libertou o seu país por meio de práticas não-violentas, como convidar
a todos os indianos a consumirem apenas tecidos indianos, o que gelou sérios
problemas econômicos à indústria têxtil inglesa (que, ate Um pouco mais adiante
na história, o consumo responsável surgiu como proposta concreta dentro do
movimento ambientalista, diante do cenário de degradação ambiental (comprovada
por inúmeros estudos científicos) resultando da equação insustentável de
utilização de recursos naturais e devolução de lixo e poluição ao planeta.
O conceito de
consumo sustentável culminou na Agenda 21 global, elaborada na Segunda Conferência Mundial de Meio
Ambiente, a Eco 92. Daí em diante, o movimento de defesa dos direitos do
consumidor passou a olhar a questão do consumo responsável como fundamental
para a garantia de relações equilibradas entre a produção e o consumo,
inserindo seus princípios no documento intitulado New-Guidelines for Consumers
Protection, a partir da recomendação do Ecosoc - Conselho Econômico e Social da
ONU através da Resolução 1997/53.
Na seqüência, de
forma inter-relacionada, assistiu-se a um estreitamento das relações entre o Consumo Responsável e os movimentos da Economia Solidária e
do Comércio Justo, como proposta de
fortalecimento mútuo pautada no princípio de que uma cadeia produtiva solidária
só se concretiza `a partir da observância de critérios socioambientais em todos
os seus elos: do produtor ao consumidor.
Enfim, este é um
movimento que veio tomando força e se consolidando como uma proposta concreta e
diária de intervenção política frente ao desafio que temos como sujeitos e
valores da história presente e futura.
Hoje, neste
encontro com a economia solidária e com o comércio justo, ele ganha ainda mais
força, na medida que encontra possibilidades concretas de ser vivenciado e
exercitado através de compras solidárias, como falaremos mais adiante. Eis um movimento que, apesar de recente, veio para ficar e
crescer.
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