Quando o assunto tem essa envergadura e importância no caminho da
vida, é salutar consultar os mestres. Esta consulta sobre meditação está
nas fontes dos discursos do sábio indiano Sri Nisargadatta Maharaj (1897-1981),
mais especificamente registrada no livro “Eu Sou Aquilo” (I Am That), a obra mais popular
entre as publicações dos seus ensinamentos.
Como em vários discursos já feitos sobre meditação, o Maharaj fala
aqui sobre se tornar a “testemunha pura“, na resposta da segunda
pergunta (de três) abaixo. Mas como já ouvi algumas pessoas usando essa
expressão em conversas sobre a meditação, falando algo como “o negócio é se
tornar a testemunha”, acho que pode ser importante observar que colocar isso
como meta é fundamentalmente equivocado. Isso não é uma meta, é um estado que é
revelado, percebido, conforme a identificação com estados impermanentes vai se
esmaecendo. Assim, a primeira resposta do Maharaj é mais valiosa do ponto de
vista da prática, pois trata da experiência de familiarização com o mundo
interno de pensamentos e sentimentos.
Perguntador: Todos os professores
aconselham e meditar. Qual é o propósito da meditação?
Maharaj: Todos conhecemos o
mundo externo das sensações e ações, mas nosso mundo interno de pensamentos e
sentimentos sabemos muito pouco. O propósito primordial da meditação é se
tornar consciente de, e se familiarizar com, nossa vida interior. O propósito
último é alcançar a fonte da vida e da consciência. A prática propositada da meditação
afeta profundamente nossa personalidade. Somos escravos do que não conhecemos;
do que sabemos somos mestres. De qualquer vício ou fraqueza em nós mesmos
descobrimos e entendemos suas causas e seus funcionamentos, nós os superamos
pelo próprio saber; o inconsciente se dissolve quando o trazemos à consciência.
A dissolução do inconsciente libera energia; a mente se sente adequada e se
torna quieta.
Perguntador: Qual é a utilidade
de uma mente quieta?
Maharaj: Quando a mente está
quieta, nós viemos a nos conhecer como a testemunha pura. Nós nos retiramos da
experiência e do experimentador e ficamos aparte em consciência pura, que está
entre e além desses dois. A personalidade, baseada na auto-identificação, em se
imaginar como sendo algo: “Eu sou isso,
Eu sou aqui”, continua, mas somente como uma parte do mundo objetivo. Sua
identificação com a testemunha se quebra.
Perguntador: Até onde posso
entender, vivo em muitos níveis e a vida em cada nível precisa de energia. O
ser por sua própria natureza se deleita em tudo e suas energias fluem
externamente. Não é um propósito da
meditação represar as energias nos níveis mais altos, ou empurrá-las de baixo
pra cima, de modo que possibilite os níveis superiores florescerem?
Maharaj: Não é tanto uma
questão de níveis, mas de gunas
(qualidades). A meditação é uma atividade
sátvica e almeja a completa eliminação de tamas (inércia) e rajas (motricidade). O satva puro (harmonia) é a liberdade perfeita da preguiça e da
agitação.
Fonte: http://dharmalog.com/2014/01/23/proposito-meditacao-utilidade-mente-quieta-nasargadatta-maharaj/?fb_action_ids=587799274632169&fb_action_types=og.likes&fb_source=aggregation&fb_aggregation_id=288381481237582
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