terça-feira, 10 de junho de 2014

A "nossa" água: um poder que não temos - LindebergueVentura


Quão de verdade há em saber que não podemos ter o que achamos que é nosso. É assim que defino a inconsciência de alguns humanos. Achar que pode, ou pior, achar que é dono da água (rios, mares e lagos), é, no mínimo, inconsequente, imoral e ilusório. Ela (a água) não depende de nós. Somos nós que dependemos dela. Na mesma proporção também vale dizer: não somos donos dela, pelo contrário, nascemos dela.

Hoje é possível acompanhar em parte do mundo os conflitos pela água, em especial a água doce; a escassez deste precioso líquido coloca a prova à fraquíssima estabilidade econômica mundial. As disputas estão pelo armazenamento para o domínio e utilização, ao seu bel prazer, dos recursos hídricos. Assim se observa no Oriente Médio cuja maior parte da água dessa região provém de bacias hidrográficas compartilhadas do Nilo, do Jordão e do Tigre-Eufrates (fig1). 

Três países utilizam-se destes rios, a Etiópia o Sudão e o Egito. São justamente entre estes povos que as ameaças já se fazem presentes. Por exemplo, “o Egito é o último país ao longo da extensão do rio. Para atender às necessidades de água de uma população que cresce com rapidez, a Etiópia planeja desviar mais água do Nilo, assim como o Sudão. Esses desvios feitos rio acima poderiam reduzir a quantidade de água disponível ao Egito, que não pode sobreviver sem esse recurso hídrico” (MILLER JR 2007).

Analistas afirmam que a escassez deste recurso está intimamente ligada as problemáticas ambientais (perda da biodiversidade e mudanças climáticas). Isso tem gerado inúmeras crises locais e mundiais em termo do manuseio inconsequente da água.

Todavia, não pense que o problema está somente lá, no Oriente Médio, aqui bem perto já é possível sentir os desajustes no tratamento que se dar a este líquido. Sabe-se o quanto se utiliza da água para sobrevivência. Grandes quantidades de água são necessárias para fornecer alimento, abrigo e atender a outras necessidades e desejos (fig.2).

Pode-se também aludir a importância da água para o controle da temperatura em todo o planeta assim como diluir e remover poluentes. Sem estas qualidades a vida humana aqui na terra seria improvável. 


Se é tão importante por que não dar a água o seu lugar de direito? É salutar lembrar que a cultura, a maneira como seguimos nossa tradição cultural, influencia a forma de relacionamento com o meio natural. Como relata Peter Singer em seu livro “Ética prática”:

As atitudes ocidentais ante a natureza são uma mistura daquelas defendidas pelos hebreus, como encontramos nos primeiros livros da Bíblia, e pela filosofia da Grécia antiga, principalmente a de Aristóteles. Ao contrário de outras tradições da Antiguidade, como, por exemplo, a da Índia, as tradições hebraicas e gregas fizeram do homem o centro do universo moral; na verdade, não apenas o centro, mas, quase sempre, a totalidade das características moralmente significativas deste mundo (SINGER, 2006. p.280-281).

Como se pode perceber, e em destaque a cultura ocidental, estamos dando prioridade à raça humana, colocando nossos desejos e vontades acima de qualquer coisa. Com isso, as atrocidades que causamos ao meio ambiente, em especial as águas do planeta, leva toda a raça humana e os outros seres a grandes perigos. 

Uma analogia que podemos apresentar aqui diz respeito à quantidade que teríamos de água no planeta e a quantidade que realmente podemos utilizar de água doce para nossa sobrevivência. Então, se a reserva de água do mundo tivesse apenas cem litros, nossa reserva utilizável de água doce seria de apenas 0,0014 litros ou 2,5 colheres de chá. Lembre-se, a água doce que dispomos para nosso uso, parte dela, não está tão acessível. Veja figura abaixo.


Tal informação se tornaria ainda mais angustiante se lembrarmos de que em nossa sociedade, na nossa maneira de viver, não percebemos (ou não queremos perceber) o quanto estamos desperdiçando essa pequena quantidade de água com nosso modo de vida. Pois,

"são necessários 400 mil litros de água para fabricar um automóvel, 9 mil litros para produzir um quilo de alumínio e 7 mil litros para produzir um quilo de carne de boi alimentado por grãos. Você economiza mais água não comendo meio quilo de carne do que se não tomasse banho por seis meses" (MILLER, 2007).

Também, podemos aqui destacar a maneira irresponsável da cultura agrícola ante ao consumo de água. Seja através da irrigação (ineficiência no processo de irrigação, vazamentos; desvio irregular – sem estudos de caso - de fontes de água para plantios), seja através da poluição de rios, lagos (superficiais ou subterrâneos) e mar pelo uso dos agrotóxicos, derramamento de petróleo no mar, óleos residuais (de frituras, de oficinas mecânicas), descartes de tintas, vernizes, medicamentos etc. 

Há ainda as constantes retiradas de água dos mananciais subterrâneos para a utilização na irrigação e para uso domésticos e/ou industriais, nos quais podem causar a sua escassez se a retirada for mais rápida do que a reposição natural através das chuvas. 

O descontrole na utilização dos recursos hídricos tem provocado diversos problemas ambientais graves e irreversíveis como o Mar de Aral (fig.3), que foi o quarto maior lago de água doce do mundo. O desvio de água deste lago, assim como o desvio das águas dos rios que alimenta este lago, para prover, em grande parte a irrigação, tem afetado drasticamente a sua existência e provocado desastre econômico e de saúde.

A ausência cada vez maior das águas do lago, que também é afeta pela evaporação, visto que a região é quente e seco e o aumento da salinidade determinam a falência e a inexistência cada vez maior de peixe. Cerca de 85% das áreas úmidas da região foram eliminadas e grande parte das aves e de mamíferos dessa região desapareceram. O pó (salgado) do mar de Aral, que ficam expostos no leito seco do rio, se espalha por grandes extensões arrastados pelo vento a uma distância de mais de 300 quilômetros e são depositados em áreas de plantio e geleiras, como o Himalaia, provocando a morte das plantações e o desgelo acelerado. É salutar destacar que a diminuição brusca das águas do Aral tem provocado mudanças climáticas nas regiões entorno do lago.
Fig.3 – Mar de Aral, em 1989 e 2008
Não precisamos ir tão longe para presenciar os males causados pelo homem a si próprio. Basta olhar no dia-a-dia, 65% a 70% da água utilizada pelas pessoas no mundo é perdida por evaporação, vazamentos, banho demorados, lavagem de calçadas, carros, moto, bicicleta, e muitos outros. Nas indústrias o consumo de água atinge níveis alarmantes. 

Diante destas problemáticas você poderia perguntar: E a água do mar não poderia ser usada para consumo? Pode sim. Entretanto, os custos são extremamente elevados para dessalinizar a água do mar e, além do mais, tais processos geram grandes quantidades de água residual salgada, na qual, passa a ser um problema ambiental, já que não seria viável retornar essa água (a salmoura) para o mar próximo de uma região, pois poderá alterar a salinidade do mesmo.

Há muito o homem deixou de respeitar o meio ambiente. Convém lembrar que não é a natureza que necessita de nós, somos nós que necessitamos dela. Por mais que façamos algo contra a natureza, não temos poder suficiente para destruí-la. O que provocamos, na verdade dos fatos, é a nossa extinção. O desarranjo provocado por nossas atitudes sobre o meio ambiente conduz a um reequilíbrio da natureza de modo a desfazer (ou adaptar) os efeitos da causa. Nestas estratégias da natureza, a capacidade de se reequilibrar, a mesma poderá não colocar em suas novas transformações a presença humana.

O que podemos fazer? 

Há diferentes maneiras de economizar. Não são necessárias grandes mobilidades energéticas para mudar nossos hábitos. Bastam simples atitudes como essas dicas extraídas de um blog (site abaixo).

No banheiro: 

Reduza o tempo de banho e economize pelo menos seis litros por minuto; 

Encha a banheira só até a metade;


Feche a torneira enquanto faz a barba ou escova os dentes. Você economizará de 10 a 20 litros por minuto; 

 Instale descargas de vaso sanitário de baixo consumo e aeradores nas torneiras (redinhas que se encaixam no bocal). Se a caixa-d'água for acoplada ao vaso, coloque dentro dela uma garrafa plástica cheia d'água e tampada, para diminuir o volume gasto;


 Não jogue lixo no vaso; 

Não dispare a descarga desnecessariamente;

Não use a mangueira como vassoura - primeiro limpe o local e depois lave.
Na cozinha e na lavanderia:
Feche a torneira enquanto ensaboa a louça. Ela desperdiça de 10 a 20 litros por minutos, enquanto uma cuba cheia d'água não gasta mais do que 38 litros, no total; 
Compre modelos de máquinas de lavar roupas e louça que consomem pouca água. Só ligue os equipamentos quando estiverem cheios. Prefira usar o ciclo mais curto; 
Instale aeradores nas torneiras, que diminuem o volume consumido, porém não sua eficácia.
No lazer: 
Lave o carro ou o quintal com balde, não com mangueira. Se quiser, use dois baldes, um com água e sabão, outro com água limpa.
Por toda a parte:
Feche bem as torneiras. Uma torneira que goteja lentamente perde cerca de 50 litros por dia. 
Chame um encanador para que ele elimine todos os vazamentos da casa.
Fonte original: http://lindebergventura.blogspot.com.br/2013/01/a-nossa-agua-um-poder-que-nao-temos.html
Para saber mais:
MILLER G Tyller. Ciência ambiental. 11ªed, São Paulo: Thomson Learning, 2007.

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