Quão
de verdade há em saber que não podemos ter o que achamos que é nosso. É assim
que defino a inconsciência de alguns humanos. Achar que pode, ou pior, achar
que é dono da água (rios, mares e lagos), é, no mínimo, inconsequente, imoral e
ilusório. Ela (a água) não depende de nós. Somos nós que dependemos dela. Na
mesma proporção também vale dizer: não somos donos dela, pelo contrário,
nascemos dela.
Hoje
é possível acompanhar em parte do mundo os conflitos pela água, em especial a
água doce; a escassez deste precioso líquido coloca a prova à fraquíssima
estabilidade econômica mundial. As disputas estão pelo armazenamento para o
domínio e utilização, ao seu bel prazer, dos recursos hídricos. Assim se
observa no Oriente Médio cuja maior parte da água dessa região provém de bacias
hidrográficas compartilhadas do Nilo, do Jordão e do Tigre-Eufrates
(fig1).
Três
países utilizam-se destes rios, a Etiópia o Sudão e o Egito. São justamente
entre estes povos que as ameaças já se fazem presentes. Por exemplo, “o
Egito é o último país ao longo da extensão do rio. Para atender às necessidades
de água de uma população que cresce com rapidez, a Etiópia planeja desviar mais
água do Nilo, assim como o Sudão. Esses desvios feitos rio acima poderiam
reduzir a quantidade de água disponível ao Egito, que não pode sobreviver sem
esse recurso hídrico” (MILLER JR 2007).
Analistas
afirmam que a escassez deste recurso está intimamente ligada as problemáticas
ambientais (perda da biodiversidade e mudanças climáticas). Isso tem gerado
inúmeras crises locais e mundiais em termo do manuseio inconsequente da água.
Todavia,
não pense que o problema está somente lá, no Oriente Médio, aqui bem perto já é
possível sentir os desajustes no tratamento que se dar a este líquido. Sabe-se
o quanto se utiliza da água para sobrevivência. Grandes quantidades de água são
necessárias para fornecer alimento, abrigo e atender a outras necessidades e
desejos (fig.2).
Pode-se
também aludir a importância da água para o controle da temperatura em todo o
planeta assim como diluir e remover poluentes. Sem estas qualidades a vida
humana aqui na terra seria improvável.
Se
é tão importante por que não dar a água o seu lugar de direito? É salutar
lembrar que a cultura, a maneira como seguimos nossa tradição cultural,
influencia a forma de relacionamento com o meio natural. Como relata Peter
Singer em seu livro “Ética prática”:
As
atitudes ocidentais ante a natureza são uma mistura daquelas defendidas pelos
hebreus, como encontramos nos primeiros livros da Bíblia, e pela filosofia da
Grécia antiga, principalmente a de Aristóteles. Ao contrário de outras
tradições da Antiguidade, como, por exemplo, a da Índia, as tradições hebraicas
e gregas fizeram do homem o centro do universo moral; na verdade, não apenas o
centro, mas, quase sempre, a totalidade das características moralmente
significativas deste mundo (SINGER, 2006. p.280-281).
Como
se pode perceber, e em destaque a cultura ocidental, estamos dando prioridade à
raça humana, colocando nossos desejos e vontades acima de qualquer coisa. Com
isso, as atrocidades que causamos ao meio ambiente, em especial as águas do
planeta, leva toda a raça humana e os outros seres a grandes perigos.
Uma
analogia que podemos apresentar aqui diz respeito à quantidade que teríamos de
água no planeta e a quantidade que realmente podemos utilizar de água doce para
nossa sobrevivência. Então, se a reserva de água do mundo tivesse apenas cem
litros, nossa reserva utilizável de água doce seria de apenas 0,0014 litros ou
2,5 colheres de chá. Lembre-se, a água doce que dispomos para nosso uso, parte
dela, não está tão acessível. Veja figura abaixo.
Tal
informação se tornaria ainda mais angustiante se lembrarmos de que em nossa
sociedade, na nossa maneira de viver, não percebemos (ou não queremos perceber)
o quanto estamos desperdiçando essa pequena quantidade de água com nosso modo
de vida. Pois,
"são
necessários 400 mil litros de água para fabricar um automóvel, 9 mil litros
para produzir um quilo de alumínio e 7 mil litros para produzir um quilo de
carne de boi alimentado por grãos. Você economiza mais água não comendo meio
quilo de carne do que se não tomasse banho por seis meses" (MILLER, 2007).
Também,
podemos aqui destacar a maneira irresponsável da cultura agrícola ante ao
consumo de água. Seja através da irrigação (ineficiência no processo de
irrigação, vazamentos; desvio irregular – sem estudos de caso - de fontes de
água para plantios), seja através da poluição de rios, lagos (superficiais ou
subterrâneos) e mar pelo uso dos agrotóxicos, derramamento de petróleo no mar,
óleos residuais (de frituras, de oficinas mecânicas), descartes de tintas,
vernizes, medicamentos etc.
Há
ainda as constantes retiradas de água dos mananciais subterrâneos para a
utilização na irrigação e para uso domésticos e/ou industriais, nos quais podem
causar a sua escassez se a retirada for mais rápida do que a reposição natural
através das chuvas.
O
descontrole na utilização dos recursos hídricos tem provocado diversos
problemas ambientais graves e irreversíveis como o Mar de Aral (fig.3), que foi
o quarto maior lago de água doce do mundo. O desvio de água deste lago, assim
como o desvio das águas dos rios que alimenta este lago, para prover, em grande
parte a irrigação, tem afetado drasticamente a sua existência e provocado
desastre econômico e de saúde.
A ausência cada vez maior das águas do lago, que
também é afeta pela evaporação, visto que a região é quente e seco e o aumento
da salinidade determinam a falência e a inexistência cada vez maior de peixe.
Cerca de 85% das áreas úmidas da região foram eliminadas e grande parte das
aves e de mamíferos dessa região desapareceram. O pó (salgado) do mar de Aral,
que ficam expostos no leito seco do rio, se espalha por grandes extensões
arrastados pelo vento a uma distância de mais de 300 quilômetros e são
depositados em áreas de plantio e geleiras, como o Himalaia, provocando a morte
das plantações e o desgelo acelerado. É salutar destacar que a diminuição
brusca das águas do Aral tem provocado mudanças climáticas nas regiões entorno
do lago.
Fig.3 – Mar de Aral,
em 1989 e 2008
Não
precisamos ir tão longe para presenciar os males causados pelo homem a si
próprio. Basta olhar no dia-a-dia, 65% a 70% da água utilizada pelas pessoas no
mundo é perdida por evaporação, vazamentos, banho demorados, lavagem de
calçadas, carros, moto, bicicleta, e muitos outros. Nas indústrias o consumo de
água atinge níveis alarmantes.
Diante
destas problemáticas você poderia perguntar: E a água do mar não poderia ser
usada para consumo? Pode sim. Entretanto, os custos são extremamente elevados
para dessalinizar a água do mar e, além do mais, tais processos geram grandes
quantidades de água residual salgada, na qual, passa a ser um problema
ambiental, já que não seria viável retornar essa água (a salmoura) para o mar
próximo de uma região, pois poderá alterar a salinidade do mesmo.
Há
muito o homem deixou de respeitar o meio ambiente. Convém lembrar que não é a
natureza que necessita de nós, somos nós que necessitamos dela. Por mais que
façamos algo contra a natureza, não temos poder suficiente para destruí-la. O
que provocamos, na verdade dos fatos, é a nossa extinção. O desarranjo
provocado por nossas atitudes sobre o meio ambiente conduz a um reequilíbrio da
natureza de modo a desfazer (ou adaptar) os efeitos da causa. Nestas
estratégias da natureza, a capacidade de se reequilibrar, a mesma poderá não
colocar em suas novas transformações a presença humana.
O
que podemos fazer?
Há
diferentes maneiras de economizar. Não são necessárias grandes mobilidades
energéticas para mudar nossos hábitos. Bastam simples atitudes como essas dicas
extraídas de um blog (site abaixo).
No banheiro:
Reduza
o tempo de banho e economize pelo menos seis litros por minuto;
Encha a banheira só até a metade;
Feche a torneira enquanto faz a barba ou escova os dentes. Você economizará de 10 a 20 litros por minuto;
Instale descargas de vaso sanitário de baixo consumo e aeradores nas torneiras (redinhas que se encaixam no bocal). Se a caixa-d'água for acoplada ao vaso, coloque dentro dela uma garrafa plástica cheia d'água e tampada, para diminuir o volume gasto;
Não jogue lixo no vaso;
Não dispare a descarga desnecessariamente;
Não use a mangueira como vassoura -
primeiro limpe o local e depois lave.
Na cozinha e na lavanderia:
Feche a torneira enquanto ensaboa a louça. Ela desperdiça de 10 a 20 litros por
minutos, enquanto uma cuba cheia d'água não gasta mais do que 38 litros, no
total;
Compre modelos de máquinas de lavar roupas e louça que consomem pouca água. Só
ligue os equipamentos quando estiverem cheios. Prefira usar o ciclo mais curto;
Instale aeradores nas torneiras, que diminuem o volume consumido, porém não sua
eficácia.
No lazer:
No lazer:
Lave o carro ou o quintal com balde,
não com mangueira. Se quiser, use dois baldes, um com água e sabão, outro com
água limpa.
Por toda a parte:
Feche bem as torneiras. Uma torneira
que goteja lentamente perde cerca de 50 litros por dia.
Chame um encanador para que ele
elimine todos os vazamentos da casa.
Fonte original: http://lindebergventura.blogspot.com.br/2013/01/a-nossa-agua-um-poder-que-nao-temos.html
Para saber mais:
MILLER G Tyller. Ciência
ambiental. 11ªed, São Paulo: Thomson Learning, 2007.
http://www.febraban.org.br/arquivo/destaques/destaque-fomezero_semiarido.asp
http://emjassessoria.blogspot.com.br/2011/03/consumo-de-agua-virtual.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mar_de_Aral
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