quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O caminho de Shamatha - Equilibrando-me

Há uma linda representação do caminho de Shamatha, a meditação da quiescência ou calmo permanecer, amplamente utilizada em todas as tradições contemplativas.

Nela o elefante representa a mente, que antes do treinamento, está tomado por aflições, medos e expectativas, representados pela cor escura.

O praticante é quem vai treinar a mente. Com a atenção plena – representada pela corda – o praticante procura manter a mente focada no objeto de escolha, e com a vigilância – representada pelo gancho – o praticante monitora a qualidade do foco da atenção.

O macaco representa um dos desequilíbrios da atenção – a distração. Ele tenta arrastar o praticante para todos os objetos dos cinco sentidos – representados pelo tecido (tato), frutas (paladar), perfume (olfato), címbalos (audição) e espelho (visão).

O coelho representa aqui o outro tipo de desequilíbrio da atenção – o embotamento, que pode culminar na sonolência.
Ao longo do caminho, o entusiasmo e também o esforço necessários para a prática são representados pelo fogo.

Aos poucos, o praticante vai domando a mente, até que ao final, livre das distrações e da lassidão, completamente clara. No final do caminho, a concentração perfeita é atingida.
O praticante voando representa o bem-estar físico; e o elefante voando representa o bem-estar mental. Montando o elefante, o praticante passeia por todo o arco-íris, empunhando a espada flamejante do perfeito discernimento.


Fonte: - http://equilibrando.me/2014/07/30/o-caminho-de-shamatha/

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Herdar - Monja Coen Sensei



Podemos nos treinar a responder em vez de reagir. Podemos sair de uma cultura de violência para uma cultura de paz.

Recebemos uma herança de nossos ancestrais. Herança genética e herança ética (ou não ética). O que fazemos com o que herdamos é de nossa responsabilidade.

Não há nada fixo. Tudo pode mudar.

A vida é um processo incessante de transformação. Somos agentes e reagentes dessas mudanças. Buda dizia que temos vários níveis de consciência. O nível mais profundo, chamado consciência alaya, é como um grande depósito com inúmeras sementes que foram desenvolvidas desde o início da vida. As sementes — ou conexões neurais — precisam ser estimuladas para brotar. Nós podemos escolher quais queremos estimular em nós e também quais queremos estimular em outras pessoas.

Mas, se desconhecemos essas possibilidades, agimos no mundo apenas reagindo às provocações e temos reações, muitas vezes, inversas aos nossos propósitos e objetivos.

Os ensinamentos budistas se baseiam em sabedoria e compaixão. Sabedoria parece ser um estado raro, para poucos gurus ou seres especiais. Na verdade, o que Buda ensina é que todas as pessoas podem acessar um estado de sabedoria perfeita. Podemos trocar a palavra por compreensão clara da realidade. É tão fácil a mente enganar a própria mente. É nosso dever e direito, de nascença, despertar. Despertar para a mente clara e incessante, para a mente que compreende a si mesma.

Uma vez fui visitar Zilda Arns, em Curitiba. Ela me mostrou seus projetos de cuidados com recém-nascidos e me disse que “a violência começa no útero materno, até no processo de concepção”.

Quão verdadeiro. Os valores culturais já entram na formação e concepção de um ser humano. Podem ser de uma cultura de violência ou de paz. Semelhante aos ensinamentos de Buda: tudo que existe é o cossurgir interdependente e simultâneo. Não há um antes e um depois, há simultaneidade.

Por isso temos de ser cuidadosos. Cuidado é compaixão. É perceber a necessidade verdadeira de alguém e atender a essas necessidades.

Não apenas atender aos nossos apegos e aversões. Ir além do eu menor. Entretanto, é através dele, do nosso anseio por tranquilidade e alegria, plenitude e felicidade, que podemos adentrar o Eu Maior.

Podemos nos treinar a responder em vez de reagir. Para isso temos de conhecer a mente humana. O mais íntimo é nosso corpo e nossa mente. E mal os conhecemos. Medite.

Quando penetramos nesse nível de conhecimento, nos percebemos a vida da Terra e daí surge o sentimento do cuidado, da compaixão, da ternura. Por tudo que herdamos, que nos mantém vivos. Por tudo que deixaremos de herança.

O que fazemos, falamos e pensamos, repetitivamente, fica gravado de forma invisível no universo. A tendência é a repetição. O que estamos deixando marcado com atitudes, pensamentos, palavras?

Vivemos um momento mágico. Podemos sair de uma Cultura de Violência para uma de Paz.

Ainda há manifestantes com bombas, armas, gritos, ataques, destruições, abusos, raptos, apedrejamentos, enforcamentos, linchamentos.

Mas há muitos que já acordaram, que estão saindo desse passado violento, dessa cultura de torturas, para uma cultura de não violência ativa. Uma cultura de paz.

Seres livres não são manipulados.

Quero você e eu, quero todos nós, absolutamente livres, capazes de ver e compreender, para atuar com ternura e respeito na construção de uma cultura de compreensão e de cuidado. Acorde para a herança que recebeu e vai deixar na Terra.

Texto original em http://www.monjacoen.com.br

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Água, um novo "ouro azul" do século XXI - Por Paloma Esteban (Crisis Del XXI)

  


O forte aumento da demanda, as condições de seca e a má gestão dos recursos naturais são os principais fatores para se preocupar com o futuro da “commoditie” mais essencial de nosso planeta. Todas as indicações são de que a água vai se tornar o novo "ouro azul" nos próximos anos e vai deslocar o petróleo, como a mais valorizada matéria-prima.
Todos os analistas concordam que a água é um bem de investimento para o futuro. Goldman Sachs, em relatório destaca o grande potencial da indústria "ouro azul" e enfatiza que a água é um dos poucos recursos que não participou, diretamente, da inflação dos preços nos últimos vinte anos. No entanto, verificou-se sua participação em, virtualmente, todos os outros ativos em todo o mundo.
Assim, não houve incentivos para encorajar o investimento na indústria da água. Mas isso vai mudar.
Paul B. Farrell, um especialista sobre o comportamento das materiais primas e ex banqueiro de Morgan Stanley, indica que as receitas globais totais dessa indústria envolve 508 bilhões (últimos dados oficiais, de 2010), dos quais o setor agricultura é, sem dúvida, o maior consumidor do mundo, com um pico de 70%. É compreensível, portanto, que a falta de água agrave diretamente o déficit da oferta de alimentos.
Outros exemplos: Mercado de engarrafamento de água gera cerca de 58 bilhões de euros,   enquanto as usinas hidrelétricas; sistemas de distribuição e estações de tratamento chegam a gerar 226 bilhões e os sistemas de tratamento de esgoto, águas residuais movimentam aproximadamente 170 bilhões.
De acordo com os últimos dados da ONU e da OCDE é que 35% da população mundial não tem acesso a água potável. Outro dado de referência fornecido pela ONU é que 50% da população mundial viverá em regiões de escassez hídrica até 2030.
A seca, certamente, é um dos principais problemas. Tendo em conta que fora das nossas fronteiras, grandes rios como o Colorado e o Rio Grande só conseguem alcançar o oceano em anos mais úmidos, podemos imaginar que o resto dos rios são muito mais complicados. E, claro, esta questão vai levar, mais cedo ou mais tarde, alguma agitação política e social, com mais de vinte países hoje obter o seu total de água potável através de rios que correm para os países vizinhos. Imagine a dificuldade que as populações mundiais mais altos rios dependentes, como o Mekong, que atravessa a China, Birmânia, Laos, Tailândia, Camboja e Vietnã.
O crescimento da população e o aumento da demanda, juntamente com essas condições de seca são o maior desafio. O melhor exemplo: a China. Como Farrell explica, possui uma população de cerca de 1 bilhão e 344 milhões de pessoas e a próxima geração vai acrescentar mais 100 milhões. Farrell diz que o gigante asiático vai precisar para construir 500 novas cidades para acolher os seus novos moradores. Então, imagine quanta água vai ser preciso para abastecer, cerca de 500 novas cidades e suas milhares de casas. Os dados são enormes e este número é apenas a metade do esperado, para o crescimento da China até 2050.
Outro país de referência é os Estados Unidos, onde a demanda por água triplicou nos últimos 30 anos, apesar de a população aumentar apenas em 50%. Ou seja, a cada 20 anos, o consumo global de água está dobrando.
Então, é a indústria de água um bom negócio? Goldman Sachs argumenta que o "ouro azul" é muito desigualmente distribuído e é um produto necessário para todas as indústrias. Mas, como vimos, não tem valor mensurável. 
Como é possível estimar o valor / preço do barril de um produto que cobre mais de 70% da terra?
O problema da valorização da água está na própria sociedade assumir o "ouro azul" como produto. Em primeiro lugar, temos a tendência de excesso de consumo de água, porque não estamos pagando o preço certo, e, portanto, não damos o valor que este merece.
Em segundo lugar, esta subestimação também fez a gestão da água como "oportunidade de negócio" ser subestimada, por algumas das grandes empresas que tenham participado do negócio, até agora.
Original em http://crisisdelxxi.blogspot.com.br/2012/07/el-agua-nuevo-oro-azul-del-siglo-xxi.html