Podemos nos treinar a responder em vez de reagir. Podemos sair de uma cultura de violência para uma cultura de paz.
Recebemos uma herança de nossos ancestrais. Herança genética e herança ética (ou não ética). O que fazemos com o que herdamos é de nossa responsabilidade.
Não há nada fixo. Tudo pode mudar.
A vida é um processo incessante de transformação. Somos agentes e reagentes dessas mudanças. Buda dizia que temos vários níveis de consciência. O nível mais profundo, chamado consciência alaya, é como um grande depósito com inúmeras sementes que foram desenvolvidas desde o início da vida. As sementes — ou conexões neurais — precisam ser estimuladas para brotar. Nós podemos escolher quais queremos estimular em nós e também quais queremos estimular em outras pessoas.
Mas, se desconhecemos essas possibilidades, agimos no mundo apenas reagindo às provocações e temos reações, muitas vezes, inversas aos nossos propósitos e objetivos.
Os ensinamentos budistas se baseiam em sabedoria e compaixão. Sabedoria parece ser um estado raro, para poucos gurus ou seres especiais. Na verdade, o que Buda ensina é que todas as pessoas podem acessar um estado de sabedoria perfeita. Podemos trocar a palavra por compreensão clara da realidade. É tão fácil a mente enganar a própria mente. É nosso dever e direito, de nascença, despertar. Despertar para a mente clara e incessante, para a mente que compreende a si mesma.
Uma vez fui visitar Zilda Arns, em Curitiba. Ela me mostrou seus projetos de cuidados com recém-nascidos e me disse que “a violência começa no útero materno, até no processo de concepção”.
Quão verdadeiro. Os valores culturais já entram na formação e concepção de um ser humano. Podem ser de uma cultura de violência ou de paz. Semelhante aos ensinamentos de Buda: tudo que existe é o cossurgir interdependente e simultâneo. Não há um antes e um depois, há simultaneidade.
Por isso temos de ser cuidadosos. Cuidado é compaixão. É perceber a necessidade verdadeira de alguém e atender a essas necessidades.
Não apenas atender aos nossos apegos e aversões. Ir além do eu menor. Entretanto, é através dele, do nosso anseio por tranquilidade e alegria, plenitude e felicidade, que podemos adentrar o Eu Maior.
Podemos nos treinar a responder em vez de reagir. Para isso temos de conhecer a mente humana. O mais íntimo é nosso corpo e nossa mente. E mal os conhecemos. Medite.
Quando penetramos nesse nível de conhecimento, nos percebemos a vida da Terra e daí surge o sentimento do cuidado, da compaixão, da ternura. Por tudo que herdamos, que nos mantém vivos. Por tudo que deixaremos de herança.
O que fazemos, falamos e pensamos, repetitivamente, fica gravado de forma invisível no universo. A tendência é a repetição. O que estamos deixando marcado com atitudes, pensamentos, palavras?
Vivemos um momento mágico. Podemos sair de uma Cultura de Violência para uma de Paz.
Ainda há manifestantes com bombas, armas, gritos, ataques, destruições, abusos, raptos, apedrejamentos, enforcamentos, linchamentos.
Mas há muitos que já acordaram, que estão saindo desse passado violento, dessa cultura de torturas, para uma cultura de não violência ativa. Uma cultura de paz.
Seres livres não são manipulados.
Quero você e eu, quero todos nós, absolutamente livres, capazes de ver e compreender, para atuar com ternura e respeito na construção de uma cultura de compreensão e de cuidado. Acorde para a herança que recebeu e vai deixar na Terra.
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