Meio ambiente não é uma pauta simples. Exige de quem relata muita atenção, pesquisa, leitura e respaldo de diversas fontes. Por se tratar de um tema multidisciplinar, falar sobre meio ambiente tornou-se um ato pedagógico. É necessário traduzir os dialetos para que os mortais leitores consigam alcançar sua importância e envergadura nos debates e compreender o que isso pode significar no dia-a-dia de cada cidadão. O que uma coisa tem a ver com a outra, como, por exemplo, o que água tem a ver com florestas?
Num país de dimensões continentais, colonizado por várias etnias e com uma cultura extrativista, é natural que as pautas socioambientais sofram todo tipo de resistência, retaliação e como não poderia deixar de ser, divergências entre os modelos implantados pelas cartilhas econômicas ortodoxas que reproduzem a mentalidade de países industrializados, como preconiza o tão ambicionado “desenvolvimento sustentável”.
Há de se compreender que, entre os desafios de informar, está o de educar, de conscientizar. Portanto quando nos referimos a uma mídia especializada, como são as mídias socioambientais estamos, em primeiro lugar, nos posicionando como “educadores”, aqueles que formarão quadros para liderar, estimular e orientar jovens para assumir responsabilidades e representar as futuras gerações. Estes que estão aí, saindo das faculdades ou entrando nelas, à procura de empregos, outros em busca de oportunidades para estarem na mesma pirâmide social a que o atual modelo de produção e consumo aspira.
Quando as mídias socioambientais procuram no seio de suas redes a estratégia para suas organizações, estão também se confrontando com o mesmo desafio que nós, desta teia, enfrentamos ao fomentar um modelo econômico sustentável.
Há tudo por e para se fazer, uma vez que esta casa fora construída sobre uma perspectiva ultrapassada em relação às necessidades de produção e consumo e à capacidade de se obter a matéria-prima, os insumos utilizados pela indústria, pela agricultura e o comércio, predatoriamente extraídos do meio ambiente para suportá-los.
As mídias socioambientais acabam por produzir uma quantidade enorme de informação, tendo que pesquisá-la, traduzi-la, estudá-la, para digerir tudo isso no menor espaço que lhe é disponibilizado na grande mídia. Quando se consegue, precisa disputá-lo a tapas com as pautas convencionais para introduzi-la nos cadernos de economia, ciência, agricultura, entre outros. Mas, a mais complexa e desafiadora de todas as situações é quando este tema se cruza com finanças.
Finanças é o “forrobodó do Ó”.
Assunto árido, chato, enfadonho e cheio de números, dados, estatísticas, curvas e percentuais. Difícil até para os mais apaixonados. Procurar uma narrativa que atraia o interesse do leitor comum - daquele que mal sabe o que a intervenção do Banco Central no mercado tem a ver com o salário mínimo, ou se isso vai aumentar ou diminuir as tarifas de água, luz e gás - é quase uma tragédia grega. Quando há algum êxito, por menor que possa parecer, é preciso comemorar com bandas e fanfarras.
No entanto, tenho-me deparado com relatórios, propostas e projetos “inspirados” em artigos, debates, informações, comentários e centenas de textos produzidos pelas mídias socioambientais em redes de comunicação on line. Muitos destes trabalhos convertem-se em consultorias bem cobradas, regiamente bem pagas. Lamentavelmente sequer citam as fontes. Poderiam, ao menos, citar: mídias socioambientais. Nem isso os incautos que se utilizam destes serviços têm coragem de fazer.
E assim caminha a humanidade. Para o abismo, evidentemente. Nem a fonte mais pura dos mananciais aguenta tanta usurpação deliberada e irresponsável desta turba. É o que chamamos de “ecoparasitismo”.
As mídias socioambientais têm literalmente financiado a migração do modelo neoclássico ortodoxo para fomentar uma economia sustentável. Muitas vezes pagam e, na maioria dos casos, com voluntarismo, boa vontade, compromisso e abnegação, sem ter a contrapartida dos que dela se utilizam para manter seus empregos, suas consultorias, seus cargos nos governos, seus currículos de bacharéis, mestres e PhDs promovendo suas palestras, cursos, eventos e campanhas publicitárias. É uma tremenda falta de respeito com este setor, que tem contribuído diuturnamente, suando em bicas para uma revolução socioambiental sem derramar o sangue dos outros.
Como todo projeto tem começo, meio e fim, também terá que apresentar “resultados” no curto prazo; uma hora, inevitavelmente, a fonte secará. O fôlego vai acabar. Quem precisou uma vez, retornará. E como águas revoltosas, as informações que municiaram tantas propostas podem se converter em números contra aqueles que não souberam delas tratar.
Será uma reviravolta contra aqueles que não souberam tratar deste “assunto” com o respeito e a responsabilidade que estas mídias merecem, pois democratizar a informação socioambiental é, em especial, fornecer graciosamente tudo aquilo que tem custo, valor, e não vem de bandeja para ninguém. Mídias socioambientais também têm seu preço. Não pague para ver!
Agora, respondam: por que as mídias socioambientais deveriam continuar a financiar uma “Economia Sustentável”?
Afinal, quem são os maiores interessados?
Nota: Palestra proferida no I Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, realizado entre os dias 12 e 14 de outubro de 2005, na cidade de Santos (SP). Painel: “Meio Ambiente e Economia Sustentável”.
Referência:
EL KHALILI, Amyra. Mídias ambientais: financiando uma “economia sustentável”. Fórum de Direito Urbano e Ambiental – FDUA, Belo Horizonte, ano 5, n.29, p.3579-3580, set./out.2006.
É professora de economia socioambiental e editora das redes Movimento Mulheres pela P@Z! e Aliança RECOs – Redes de Cooperação Comunitária Sem Fronteiras. É autora do e-book Commodities ambientais em missão de paz: novo modelo econômico para a América Latina e o Caribe.
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