quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Holoceno e Antropoceno

por José Eustáquio Diniz Alves

O Holoceno é um termo geológico para definir o período que se estende de 12 ou 10 mil anos – quando terninaram os efeitos da última glaciação – até a contemporalidade. A população humana no início do período Holoceno era de cerca de 5 milhões de habitantes (menor do que o número atual de moradores da cidade do Rio de Janeiro). 

Mas o Holoceno propiciou as condições climáticas para o desenvolvimento do ser humano, pois foi neste período que a humanidade começou e expandiu as atividades agrícolas, a domesticação dos animais e a construção de cidades. 

Foi também o período que as migrações se multiplicaram por todos os cantos do Planeta.

A densidade populacional e econômica chegou a níveis bastante elevados, sendo que diversos analistas consideram que as atividades antrópicas já ter ultrapassado os limites do Planeta. A população passou de 5 milhões para 7 bilhões de habitantes, um aumento de 1400 vezes. Mas a economia e o consumo cresceram muitas vezes mais, explorando e sugando os recursos naturais, ao mesmo tempo em que descartava as sobras do consumo em forma de lixo, esgoto e outros resíduos poluentes. Somente para alimentar os sete bilhões de habitantes do mundo são mortos cerca de 60 bilhões de animais todos os anos.

O prêmio Nobel de Química de 1995, o holandês Paul Crutzen, avaliando o grau do impacto ambientalmente destruidor das atividades humanas afirmou que o mundo entrou em uma nova era geológica: a do ANTROPOCENO. Este termo, que tem antigas raízes etimológicas gregas significa “época da dominação humana” e representa um novo período da história da Terra em que o ser humano se tornou a causa da escalada global da mudança ambiental.

A humanidade tem afetado não só o clima da Terra, mas também química dos oceanos, os habitats terrestres e marinhos, a qualidade do ar e da água, os ciclos de água, nitrogênio e fósforo, alterando os diversos componentes essenciais que sustentam a vida no planeta. Cerca de 30 mil espécies são extintas a cada ano. A humanidade está provacando a redução da biodiversidade da Terra.

O biólogo E. Wilson considera que a humanidade é a primeira espécie na história da vida na Terra a se tornar numa força geofísica destruidora. Nas últimas seis décadas, na medida em que o PIB mundial crescia e os recursos naturais eram canalizados para o desfrute do consumo e do bem-estar humanos, houve uma investida exponensial sobre todos os ecossistemas do Planeta. O progresso humano tem significado regresso ambiental.

Este compasso é insustentável. 

O Antropoceno é uma Era sem futuro, pois no ritmo atual, o caminho trilhado vai levar à destruição do Planeta, ao ecocídio e mesmo ao suicídio daqueles que estão provocando a depleção ambiental. É urgente substituir o Antropocento pelo Ecoceno, ou seja, uma era em que haja harmonia entre todas as espécies vivas da Terra, com a eliminação da exploração e da dominação de uma espécie sobre as demais. Para tanto, é preciso superar a maneira de pensar antropocêntrica e adotar e respeitar os princípios ecocêntricos.

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Mudando Paradigmas na Educação (Dublado) - RSA Animate

Publicado Coluna Bem Viver do Jornal Estado de Minas
“Antônio Roberto, meu marido e eu temos muitas dificuldade em negar alguma coisa para nossa filha adolescente de 15 anos. Tudo o que ela quis de importante nós demos a ela. Esperávamos, em resposta, que ela se tornasse meiga, obediente e compreensiva. O oposto está acontecendo. Ela está agressiva e fica furiosa quando não a atendemos em algum desejo. O que saiu errado?”. Margarida de Belo Horizonte”.
A educação tradicional, da qual somos frutos, era centrada na repressão e no autoritarismo. Muitos de nós ainda se recorda das mil e uma restrições que nos eram impostas na infância: horários rígidos para refeições, para voltar para casa, regras morais para os namoros, castigos por qualquer desobediência, não responder aos pais diante das discordâncias, etc.

 Diante de tanta severidade e de tantos comportamentos injustos por parte dos pais, a maioria da geração nascida ou educada nos anos 60 e 70 crescem com uma idéia fixa: Não repetir com os filhos o que sofrem com os pais. Em outras palavras, educar os filhos de uma forma oposta à educação que teve. E a partir daí, de forma pendular, os pais atuais tendem a cair em um extremo permissivo, como é o caso da leitora acima. E agora, a coisa complica.
O que fazer com o adolescente que não aceita um horário para voltar para casa à noite, passa a madrugada na Internet, dorme até tarde, falta ao colégio, deixa as roupas espalhadas pela casa, se excede no uso do celular?

Hoje os pais se sentem inseguros e vivem em um eterno dilema. Sabem que devem impor limites aos filhos, mas ao mesmo tempo teme o conflito com eles, a revolta deles, ou serem taxados por eles de déspotas ou autoritários. E na tentativa de resolver esse conflito interno muitos pais chegam a escolher uma forma ainda pior: entre a proteção e a repressão escolhem as duas. Protegem em grandes coisas e reprimem no secundário. Não raro, pais que proíbem os filhos de irem a uma festa, de fumarem ou de viajarem com os amigos, se apressam em enchê-los de bens materiais, carro, celular, roupas de marca, etc. Proteger e escravizar ao mesmo tempo.
 De qualquer forma, há um consenso entre os educadores que o limite, mais que nunca é necessário. Limitar significa apenas fazer o uso adequado do “não”. No mundo de hoje para darem conta de educar os filhos para uma realidade em profunda transformação e cheia de desafios, os pais têm que alargar o conceito de amor.
Amar significa juntar bondade e verdade. O “NÃO” faz parte da relação amorosa. O “não” cria condições para que nossos filhos mobilizem seu potencial para resolverem seus problemas, aumentem o seu limiar de frustração e se torne cada vez mais, independentes e autônomos. E por que é tão difícil negar alguma coisa aos filhos? Por causa do sentimento de culpa. Pais preocupados com a imagem de parecerem perfeitos diante dos filhos desenvolvem comportamentos extremamente benevolentes, estando mais preocupados em serem amados pelos filhos do que em dar-lhes autonomia e preparação para a vida. Pais que dizem sim o tempo todo está reforçando condutas de irresponsabilidade, sensação de fraqueza e baixa auto-estima nos filhos.

É importante ressaltar que o “não” a que nos referimos aqui não é uma negativa caprichosa apenas para resolver os sentimentos negativos dos pais, como a ansiedade, preocupação, ciúme e competição. É o exercício natural da autoridade paterna na interpretação da realidade e na exigência de regras necessárias para uma convivência construtiva. Não se trata de preservar o mando autoritário e obrigar os filhos a uma obediência cega, fazendo valer a máxima de que “manda quem pode”. 


Trata-se do estabelecimento da regras do jogo, baseadas nos fatos e nas leis que regem o funcionamento da comunidade familiar. E um “não” mais próximo da figura do juiz de futebol que limita o jogo do que da figura de um policial arbitrário, decidindo o que pode ou o que não pode ser feito. Os pais não devem temer discutir com os filhos todos esses pontos, assinalando que a vida não é feita só de prazer, mas também de obrigações. Envolver os filhos nas tarefas domesticas, ensiná-los a arrumar o próprio quarto, desde pequeninos, a guardar os brinquedos após brincar são formas de inserí-los na responsabilidade e comprometimento.

 E, finalmente, limitar os filhos não é uma tarefa verbal de criticar, discutir, argumentar, gritar, esbravejar. É colocar-se claramente nas questões e, sobretudo, tornar uma atitude firme não cedendo às manipulações ou tirania dos filhos.
Educar é preparar o filho para a própria liberdade. E ele só será livre psicologicamente se souber lidar com a realidade que é feita de altos e baixos, de prazer e de frustração, de devoções e obrigações, de querer e de poder. Amar o filho é ser referência para ele no “sim”, através do apoio, do afeto, da ajuda e do “não”.
Antônio Roberto

domingo, 2 de setembro de 2012

Ecoeconomia: Decrescimento ou barbárie!

Com outras palavras, mesmo distribuído, o consumo é demasiado alto para um único Planeta dar conta. Com isso estamos querendo chamar a atenção para o fato de que há um imperativo de mexer realmente na lógica econômica vigente. Sem isso não há saída. É nesse sentido que, novamente, apontam vários dos entrevistados pela Revista. Latouche prossegue propondo o que ele chama de “decrescimento”, o que não é “crescimento negativo”. O termo esconde uma realidade muito mais complexa do que o termo possa, à primeira vista, oferecer.

“O projeto de uma sociedade de decrescimento é radicalmente diferente do crescimento negativo, aquele que agora já conhecemos”, insiste Latouche. E prossegue: “O decrescimento só é viável numa ‘sociedade de decrescimento’, isto é, no quadro de um sistema que se situa sobre outra lógica. A alternativa é, por conseguinte, esta: decrescimento ou barbárie!”. A sociedade de decrescimento não se confunde com o capitalismo reformado ou esverdeado. “Uma economia capitalista ainda poderia funcionar com uma grande escassez dos recursos naturais, um desregramento climático, o desmoronamento da biodiversidade etc. É a parte de verdade dos defensores do desenvolvimento sustentável, do crescimento verde e do capitalismo do imaterial. 

As empresas (pelo menos algumas) podem continuar a crescer, a ver sua cifra de negócios aumentar, bem como seus lucros, enquanto as fomes, as pandemias, as guerras exterminariam nove décimos da humanidade. Os recursos, sempre mais raros, aumentariam mais que proporcionalmente de valor”, cutuca Latouche.

Segundo Dowbor, “temos uma economia que é destrutiva em termos ambientais e é injusta em termos sociais”. Na mesma direção vai Henrique Cortez: “Na realidade, precisamos construir uma nova sociedade, com um novo modelo econômico. Voltando ao tema central, não teremos um futuro minimamente aceitável sem uma profunda revisão dos conceitos, fundamentos e modelo da economia. E não faremos esta revisão sem uma clara compreensão de nossa responsabilidade em termos de cidadania planetária”. E finaliza dizendo que está em questão “o que realmente deve ser entendido como desenvolvimento, como deve ser medido e incentivado”.

Segundo Paulo Durval Branco, a economia ecológica se apresenta como alternativa “porque ela parte de premissas corretas. Uma delas é a impossibilidade do crescimento como um retorno exclusivo do processo econômico. Então, a ecoeconomia supõe o sistema econômico como parte de um sistema maior, que é a biosfera”.

Assim, uma possível leitura desse rico material consiste em perceber que a questão de fundo é a busca de um modo alternativo de economia, capaz de integrar os limites da natureza e a lógica social do consumismo. E isso porque até o chamado “consumo ético” deve ser problematizado, como sugere Henrique Cortez.

De forma enfática e até inusitada, Cortez afirma que “o que hoje se convenciona chamar de consumo ético deve ser encarado como conservador em relação à manutenção do modelo consumista. Assim posso consumir irrestritamente, porque me justifico através do consumo ético. É uma forma de ‘indulgência’ ao ‘pecado’ do consumo. O consumo ético só será transformador se ele questionar o modelo consumista, assumindo sua dimensão coletiva e política em relação ao modelo econômico, às formas de produção e ao sistema político de sustentação. É necessário questionar a quem serve este modelo e a quem beneficia”.

Cortez chama a atenção para uma nova compreensão do ato de consumo, de modo geral sempre mais relacionado à liberdade pessoal e menos referenciado econômica e politicamente. “Comumente, associamos o consumo ético a um ato individual de consciência, uma opção pessoal, mas ele também deve ser considerado em suas dimensões econômicas e políticas”. 

 Em outro momento da entrevista , Cortez reforça essa ideia: “O consumo é um ato político e econômico e, neste sentido, deve ser ético, responsável e sustentável. O consumo só é ético se for sustentável e isto só ocorrerá com uma gigantesca redução do consumo global”.

Paralelamente à emergência da problemática ambiental, foi se cristalizando também a ideia da reciclagem, como forma de remediar os impactos ambientais. Produz-se, consome-se, mas se recicla. Dessa maneira, não se questiona ou mesmo se interrompe a lógica subjacente, que é o que Cortez tenta fazer. Por isso, Latouche dirá que o “melhor lixo é aquele não produzido”.

Pelo acento posto no consumidor, joga-se toda a responsabilidade pelo consumo sobre este e não se questiona o resto. Atribui-se, ideologicamente ou não, a responsabilidade ao consumo e não à produção e à lógica produtiva subjacente.

Para iluminar este aspecto vale recuperar uma reflexão feita por Robert Tomás, professor de Economia Aplicada da Universidade Autônoma de Barcelona e reproduzida no Boletim CEPAT Informa n. 101, de setembro de 2003, p. 5-7. Em artigo intitulado ‘A cultura do desperdício’, o professor adianta que o problema do desperdício em se apresenta sob as vertentes econômica e ecológica. Mas o mais relevante da sua reflexão, no âmbito desta análise, consiste na falácia de que o problema ecológico seria solucionado pela eficiência técnica e pela ênfase na conduta responsável do consumidor.

Sobre a ênfase na conduta do consumidor, escreve: “Supõe-se que é preciso procurar que os consumidores estejam conscientes da irracionalidade de seu modo de vida e adotem uma conduta presidida pela austeridade, pela eficiência e pela consciência cívica e ecológica. Assim, é preciso convencer os cidadãos” para que reorientem seu consumo (…) “Da pressão do consumidor se há de derivar que as empresas compitam entre si para oferecer os melhores produtos do ponto de vista da eficiência energética e do impacto ambiental. Assim, de forma paulatina, se irá eliminando o esbanjamento e a sociedade se fará mais racional, austera e eficiente”.

Mas, o verdadeiro problema deste tipo de argumentação, alerta Robert Tomás, está na “assunção ilusória da capacidade do consumidor para determinar as decisões produtivas das empresas. Basta fixar-se nos poderosos condicionantes a que está submetido o consumo para dar-se conta do irreal desta proposta. É preciso dar um passo a mais e examinar o significado do consumo no contexto das pautas culturais de nossa modernidade”.

A análise da Conjuntura da Semana é uma (re)leitura das Notícias do Dia publicadas diariamente no sítio do IHU. A análise é elaborada, em fina sintonia com o Instituto Humanitas Unisinos – IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT, parceiro estratégico do IHU, com sede em Curitiba-PR, e por Cesar Sanson, professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, parceiro do IHU na elaboração das Notícias do Dia.