segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Mudando Paradigmas na Educação (Dublado) - RSA Animate

Publicado Coluna Bem Viver do Jornal Estado de Minas
“Antônio Roberto, meu marido e eu temos muitas dificuldade em negar alguma coisa para nossa filha adolescente de 15 anos. Tudo o que ela quis de importante nós demos a ela. Esperávamos, em resposta, que ela se tornasse meiga, obediente e compreensiva. O oposto está acontecendo. Ela está agressiva e fica furiosa quando não a atendemos em algum desejo. O que saiu errado?”. Margarida de Belo Horizonte”.
A educação tradicional, da qual somos frutos, era centrada na repressão e no autoritarismo. Muitos de nós ainda se recorda das mil e uma restrições que nos eram impostas na infância: horários rígidos para refeições, para voltar para casa, regras morais para os namoros, castigos por qualquer desobediência, não responder aos pais diante das discordâncias, etc.

 Diante de tanta severidade e de tantos comportamentos injustos por parte dos pais, a maioria da geração nascida ou educada nos anos 60 e 70 crescem com uma idéia fixa: Não repetir com os filhos o que sofrem com os pais. Em outras palavras, educar os filhos de uma forma oposta à educação que teve. E a partir daí, de forma pendular, os pais atuais tendem a cair em um extremo permissivo, como é o caso da leitora acima. E agora, a coisa complica.
O que fazer com o adolescente que não aceita um horário para voltar para casa à noite, passa a madrugada na Internet, dorme até tarde, falta ao colégio, deixa as roupas espalhadas pela casa, se excede no uso do celular?

Hoje os pais se sentem inseguros e vivem em um eterno dilema. Sabem que devem impor limites aos filhos, mas ao mesmo tempo teme o conflito com eles, a revolta deles, ou serem taxados por eles de déspotas ou autoritários. E na tentativa de resolver esse conflito interno muitos pais chegam a escolher uma forma ainda pior: entre a proteção e a repressão escolhem as duas. Protegem em grandes coisas e reprimem no secundário. Não raro, pais que proíbem os filhos de irem a uma festa, de fumarem ou de viajarem com os amigos, se apressam em enchê-los de bens materiais, carro, celular, roupas de marca, etc. Proteger e escravizar ao mesmo tempo.
 De qualquer forma, há um consenso entre os educadores que o limite, mais que nunca é necessário. Limitar significa apenas fazer o uso adequado do “não”. No mundo de hoje para darem conta de educar os filhos para uma realidade em profunda transformação e cheia de desafios, os pais têm que alargar o conceito de amor.
Amar significa juntar bondade e verdade. O “NÃO” faz parte da relação amorosa. O “não” cria condições para que nossos filhos mobilizem seu potencial para resolverem seus problemas, aumentem o seu limiar de frustração e se torne cada vez mais, independentes e autônomos. E por que é tão difícil negar alguma coisa aos filhos? Por causa do sentimento de culpa. Pais preocupados com a imagem de parecerem perfeitos diante dos filhos desenvolvem comportamentos extremamente benevolentes, estando mais preocupados em serem amados pelos filhos do que em dar-lhes autonomia e preparação para a vida. Pais que dizem sim o tempo todo está reforçando condutas de irresponsabilidade, sensação de fraqueza e baixa auto-estima nos filhos.

É importante ressaltar que o “não” a que nos referimos aqui não é uma negativa caprichosa apenas para resolver os sentimentos negativos dos pais, como a ansiedade, preocupação, ciúme e competição. É o exercício natural da autoridade paterna na interpretação da realidade e na exigência de regras necessárias para uma convivência construtiva. Não se trata de preservar o mando autoritário e obrigar os filhos a uma obediência cega, fazendo valer a máxima de que “manda quem pode”. 


Trata-se do estabelecimento da regras do jogo, baseadas nos fatos e nas leis que regem o funcionamento da comunidade familiar. E um “não” mais próximo da figura do juiz de futebol que limita o jogo do que da figura de um policial arbitrário, decidindo o que pode ou o que não pode ser feito. Os pais não devem temer discutir com os filhos todos esses pontos, assinalando que a vida não é feita só de prazer, mas também de obrigações. Envolver os filhos nas tarefas domesticas, ensiná-los a arrumar o próprio quarto, desde pequeninos, a guardar os brinquedos após brincar são formas de inserí-los na responsabilidade e comprometimento.

 E, finalmente, limitar os filhos não é uma tarefa verbal de criticar, discutir, argumentar, gritar, esbravejar. É colocar-se claramente nas questões e, sobretudo, tornar uma atitude firme não cedendo às manipulações ou tirania dos filhos.
Educar é preparar o filho para a própria liberdade. E ele só será livre psicologicamente se souber lidar com a realidade que é feita de altos e baixos, de prazer e de frustração, de devoções e obrigações, de querer e de poder. Amar o filho é ser referência para ele no “sim”, através do apoio, do afeto, da ajuda e do “não”.
Antônio Roberto

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