Nunca tivemos tanta comida produzida no mundo, mesmo assim um milhão de
pessoas passam fome e outro milhão comem menos do que necessitam.
A fome é, sim, um problema de economia mundial.
Em vinte anos, o Brasil tomará dos Estados Unidos a liderança mundial na
produção de alimentos. No entanto, 49% dos brasileiros estão acima do peso,
sendo 16% obesos, segundo o Ministério da Saúde.
A obesidade é um problema de saúde pública, logo, de economia nacional.
Por que esse disparate entre a grande quantidade de alimento e a fome e o
sobrepeso?
Apesar das commodities agrícolas bombarem as bolsas de valores, o sistema
alimentar mundial tem falhas, e das grossas: o modo de produção usa recursos
naturais de maneira abusiva, o sistema está baseado na industrialização, que
artificializa o alimento, e a distribuição é concentrada e controlada por
poucos gigantes do setor.
Alimentação em quantidade e qualidade adequada e saudável é um direito
humano, mas virou artigo de luxo.
Em seu discurso de posse, no dia 18 de abril de 2012, a presidente do Conselho
Nacional de Segurança Alimentar, a antropóloga Maria Emília Pacheco, criticou
os agrotóxicos, os alimentos transgênicos e a livre atuação das grandes corporações,
apoiada na irrestrita publicidade de alimentos, especialmente entre o público
infantil, como nocivas para a segurança e soberania alimentar.
"O caminho percorrido historicamente pelo Brasil com seu atual modelo
de produção nos levou ao lugar do qual não nos orgulhamos de maior consumidor
de agrotóxicos no mundo e uma das maiores áreas de plantação de
transgênicos", afirmou.
O país que está prestes a tornar-se líder mundial na produção de alimentos
abusa de venenos que causam intoxicação crônica, aquela que mata devagar com
doenças neurológicas, hepáticas, respiratórias, renais, cânceres entre outras e
provoca o nascimento de crianças com mal formação genética.
O uso massivo de agrotóxico promovido pela expansão do agronegócio está
contaminando o agricultor, que tem contato direto com a lavoura envenenada, os
alimentos, a água e o ar. Estudos científicos recentes encontraram resíduos de
agrotóxicos em amostras de água da chuva em escolas públicas no Mato Grosso.
O sangue e urina dos moradores de regiões que sofrem com a pulverização
áreas de agrotóxicos estão envenenados. Nos últimos anos, o Brasil tornou-se o
principal destino de defensivos agrícolas banidos no exterior. Segundo dados da
Anvisa, são usados em nossas lavouras pelo menos dez produtos proscritos na
União Europeia, Estados Unidos, China.
É evidente que segurança e soberania alimentar dependem de um sistema de
produção alimentar bom, limpo e justo, sustentável e descentralizado, de base
agroecológica de produção, extração e processamento, de processos permanentes
de educação alimentar e nutricional.
É estratégico adotar a soberania e segurança alimentar como um dos eixos
ordenadores da estratégia de desenvolvimento do país para superar desigualdades
socioeconômicas, regionais, étnico-raciais, de gênero e de geração e erradicar
a pobreza extrema e a insegurança alimentar e nutricional.
Fico contente com a posse de Maria Emília Pacheco por sua força de vontade
política e clareza de que é preciso fortalecer a capacidade reguladora do
Estado, tanto na regulação da expansão das monoculturas, como no banimento
imediato dos agrotóxicos que já foram proibidos em outros países, incluindo os
que foram utilizados em guerras, como o glifosato.
E dar um o fim aos subsídios fiscais, rotular, obrigatoriamente, todos
os alimentos transgênicos, assegurando o consumidor o direito à informação.
Investir na agricultura familiar e camponesa é eixo fundamental que deve estar
na prioridade do governo.
Ela gera emprego e renda para milhões de pessoas, estimula a produção de
alimentos e a diversidade de culturas, respeita tradições alimentares e
preserva a natureza, fixa o homem no campo e fortalece as economias locais e
regionais.
Desejo que a proposta da Política Nacional de Agroecologia e Sistemas
Orgânicos de Produção, em processo de elaboração por um grupo interministerial,
seja amplamente aprovada a aplicada para garantir a proteção da
agrobiodiversidade e de iniciativas como a conservação de sementes crioulas, os
sistemas locais públicos de abastecimento, circuitos curtos de mercado e
mercado institucional.
É vencendo esses passos que um país deveria orgulhar-se de ser líder mundial
na produção de alimentos.
À propósito, acontece em Junho, o ENCA, no Patrimônio da Penha, ES. Neste evento, o tema principal é a disseminação de sementes crioulas - uma semeadura de alimentos livre de agrotóxicos. Saúde e Paz. Sol.
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