Velha conhecida da medicina popular, a planta Physalis angulata
demonstrou em testes clínicos potencial para se tornar uma grande
aliada de pessoas com pele sensível ou intolerante a cosméticos, que
podem desenvolver dermatites.
Em pesquisa realizada pela empresa Chemyunion Química – fabricante de
matérias-primas para a indústria cosmética e farmacêutica – o extrato
concentrado do vegetal mostrou ação anti-inflamatória equivalente à da
hidrocortisona, mas sem os efeitos adversos dessa última.
Enquanto o uso prolongado de corticoides tópicos prejudica a formação
de colágeno e torna a pele mais fina e suscetível a lesões, os ativos
da P. angulata estimulam a produção dessa proteína e a
regeneração celular. “Mesmo pessoas com pele normal podem se beneficiar
do efeito antienvelhecimento do extrato”, disse Márcio Antônio Polezel,
diretor industrial da Chemyunion.
Também conhecida como camapu, juá, balãozinho ou saco de bode, a P. angulata
está presente no Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste brasileiro,
mas se concentra principalmente na Amazônia. Há muito tempo é usada em
chás e infusões no combate à asma, hepatite, malária, reumatismo e
também como diurético e analgésico.
Nos anos 1970, cientistas descobriram que substâncias existentes na
planta, batizadas de fisalinas, possuíam ação anti-inflamatória. Estudos
posteriores sugeriram que as fisalinas poderiam também ser uma arma
contra o câncer, a tuberculose e a doença de Chagas.
Com apoio do
Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), a
Chemyunion começou a investigar em 2006 plantas da biodiversidade que
tinham efeito semelhante ao dos corticoides e viu na P. angulata uma boa candidata.
“No início achávamos que a ação anti-inflamatória vinha somente das
fisalinas, mas descobrimos que no caule e nas folhas da planta – partes
usadas na pesquisa – a quantidade dessa substância é pequena. O
benefício é proporcionado por fitoesterois, flavonoides e diversas
outras substâncias presentes no vegetal”, disse Polezel.
Para extrair os princípios ativos das plantas, a indústria cosmética
geralmente recorre a solventes como água, álcool etílico,
propilenoglicol ou butilenoglicol. “O problema é que essas substâncias
permanecem no extrato final e podem causar efeitos indesejados. O
álcool, por exemplo, resseca a pele”, disse.
Na tentativa de obter uma matéria-prima pura e com concentração até
10 mil vezes maior de substâncias ativas, a Chemyunion recorreu a um
método pouco comum no meio cosmético: a extração com dióxido de carbono
(CO2) supercrítico.
“Nós submetemos o CO2 a uma pressão 500 vezes maior que a da
atmosfera. O gás entra em um estado chamado supercrítico, intermediário
entre o líquido e o gasoso. É então injetado nos reatores de extração,
penetra nas células do vegetal e retira os ativos. Quando a pressão é
reduzida a 70 atmosferas, o CO2 retorna ao estado gasoso e se separa do
extrato, que cai em um coletor”, explicou Polezel.
O processo não ultrapassa a temperatura de 50 ºC, o que garante a
integridade das moléculas. Além disso, pode ser considerado
ecologicamente correto, uma vez que o CO2 é utilizado em ciclo fechado
dentro do extrator.
O problema é o preço. Enquanto um extrato vegetal pode custar apenas
R$ 4 o quilo, cada grama da matéria-prima superconcentrada pode chegar a
R$ 170 reais ou até mais, dependendo dos ativos que se busca. “É no
mínimo dez vezes mais cara, levando-se em conta a diferença de
concentração. Mas não tem o efeito indesejável do solvente e permite
dosar com precisão a concentração desejada dos ativos, de forma a se
conseguir a eficácia que se busca, o que garante a eficácia”, explicou
Polezel.
Superconcentrado
A empresa também desenvolveu um extrato hidroglicólico comum de P. angulata para comparar com o superconcentrado e com a hidrocortisona durante as pesquisas.
Os primeiros testes de eficácia e segurança foram feitos in vitro
com culturas de células humanas. Em seguida, o efeito dos dois extratos
vegetais e da hidrocortisona foi comparado em 33 voluntários entre 18 e
60 anos.
“Comprovamos que a P. angulata tem ação equivalente à de
corticoides e demonstramos que o extrato superconcentrado é no mínimo
25% mais eficaz no combate à inflamação que a versão hidroglicólica,
tendo-se como base o mesmo teor de ativos”, disse Gustavo Facchini,
pesquisador do projeto.
Os dois tipos de extrato de P. angulata já foram lançados no
mercado. O superconcentrado ganhou o nome de Physavie, e o
hidroglicólico, de EcoPhysalis. Segundo a gerente de pesquisa e
desenvolvimento da Chemyunion, Cecília Nogueira, cerca de dez empresas
brasileiras e estrangeiras estão testando ou lançando cosméticos com
esse ativo.
“O Physavie é um produto premium, para a indústria cosmética de
primeira linha. É mais caro, mas vai resolver o problema de quem tem
pele sensível em menos tempo, com menor quantidade e sem o risco de
efeitos colaterais causados pelos extratos comuns contendo solventes”,
disse Nogueira.
Fonte: Fapesp - http://agencia.fapesp.br/15297
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